Fundado seis meses após a morte do ídolo da F1, o Instituto Ayrton Senna completa três décadas em novembro. Nesse tempo, a organização sem fins lucrativos vem acompanhando as transformações no mundo da educação e se adaptando em sua missão de apoiar e promover soluções para a área.
“As novas gerações estão perdendo habilidades que as gerações antigas tinham desenvolvido”, afirma Viviane Senna, 66, irmã do piloto tricampeão mundial e presidente da entidade. Segundo ela, enquanto o avanço tecnológico trouxe facilidades, também impôs novas exigências ao indivíduo, cobrando dele habilidades que vão além da fronteira cognitiva.
São nessas novas demandas que o instituto tenta se concentrar agora.
“Em um mundo que está neste nível de mudanças, você precisará ter uma abertura gigante ao novo, ao desconhecido, uma flexibilidade enorme. Você terá que ter uma persistência, foco, disciplina senão você se perde nesta multitude de mudanças. Você terá que ter muita resiliência emocional a várias dificuldades que vão se colocar”, exemplifica Viviane.
Soma-se isso uma maior expectativa de vida, a qual pode chegar a 130 anos, de acordo com o estudo “Human mortality at extreme age” [Mortalidade humana em idades avançadas, em português] publicado na revista científica Royal Society Open Science.
“O mundo está passando por uma transformação acelerada de tal forma que, por exemplo, uma criança de 4 anos hoje, daqui a 15 anos, terá visto o mundo passar por uma transformação que hoje equivale a 150 anos. Quando essa criança que hoje tem 4 anos chegar aos 20, ela vai ter vivido esse nível de mudanças, de 150 anos em 15, e ainda vai ter mais 110 anos para viver”, aponta.
É nesse sentido que emerge aquilo que os profissionais da área da educação chamam de “educação plena”. Essa não só se trata de desenvolver competências cognitivas, como ler, aprender e calcular, mas também de desenvolver competências conhecidas como “soft skills”, isto é, habilidades comportamentais e, portanto, subjetivas.
Contudo, a realidade educacional brasileira ainda não alcançou o patamar em que se pode permitir trabalhar especialmente o desenvolvimento de “soft skills” das crianças e adolescentes. Segundo um estudo do Banco Mundial, uma criança que nasceu em 2019, ao completar 18 anos, alcançará em média somente 60% do seu capital humano potencial.
“Nós, como país, desperdiçamos 40% do talento brasileiro”, afirma Viviane.
Ela afirma ter noção disso desde a década de 1990, quando fundou o instituto. Em um primeiro momento, a organização se inspirava no modelo de terceiro setor existente à época. “Já no segundo ano, atendemos 40 mil crianças, o que é muito para uma ONG recém-nascida”, recorda. Ainda assim, conta, sentia constantemente uma angústia ao pensar nas crianças e adolescentes que não estavam recebendo ajuda.
“Eu estava indo, como todo mundo do terceiro setor, com uma estratégia de varejo, quase de artesanato social, para enfrentar um problema de atacado. Realmente, a conta não fecharia.” A presidente do instituto decidiu mudar a abordagem e, para isso, introduziu o paradigma da larga escala ao terceiro setor.
Em vez de atuar em escolas específicas, o Ayrton Senna decidiu ampliar o horizonte desenhando projetos e políticas públicas que ajudariam na formação de profissionais da educação, bem como incorporou o paradigma da eficiência para otimizar cada projeto. Assim, tal como um laboratório que vende vacinas aos hospitais, o instituto transformou-se em um laboratório voltado para a distribuição de soluções para as secretarias de educação em todo o país.
“A educação feita com competência mudou o destino das pessoas”, diz Viviane. Em 30 anos, a organização já esteve presente em 3.000 municípios e ajudou, segundo levantamento interno, 36 milhões de crianças e adolescentes.
“A agonia que eu sentia inicialmente diminuiu porque eu estava atacando estrategicamente o problema, não indo apenas com boas intenções. Boas intenções são só linha de largada. A linha de chegada é resultado.”
Raio-x
Viviane Senna, 66
Presidente do Instituto Ayrton Senna desde a fundação, em 1994. É graduada em psicologia pela PUC-SP, com especialização em psicologia junguiana pelo Instituto Sedes Sapientiae. Atuou como psicoterapeuta de adultos e crianças.
*MARIA CLARA CASTRO/folhapress
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Fonte: Paraíba Online