ARTUR BÚRIGO
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Veja como o SVB foi de “banco das startups” e 16º maior dos EUA à falência em 36 horas, conheça a fintech que captou R$ 22 milhões com menos de um ano de operação, e outros destaques do mercado nesta segunda-feira (13).
**COMO UM BANCO QUEBROU EM 36 HORAS**
Não demorou nem dois dias para o SVB (Silicon Valley Bank), 16º maior banco dos EUA, com US$ 209 bilhões em ativos, ir à falência.
A segunda maior derrocada de um banco da história americana foi consumada na sexta (10), quando os órgãos reguladores assumiram o controle da instituição.
Neste domingo, eles disseram que todos os correntistas serão pagos integralmente, e nenhuma perda será bancada pelo contribuinte americano.
A notícia foi um alívio para startups e investidores que são clientes do banco.
Explicamos o que se sabe até agora sobre o caso e o impacto que ele pode ter no sistema financeiro:
O BANCO
Fundado há 40 anos no Vale do Silício, polo tecnológico mundial, o SVB se tornou uma solução para startups. Ao mesmo tempo em que precisavam de dinheiro para crescer, essas empresas, por serem novatas, tinham pouco acesso a crédito nos bancões.
Não à toa quase metade das startups americanas eram clientes do SVB.
COMO CHEGAMOS ATÉ AQUI
Graças ao apetite a risco gerado pelos juros zerados em 2020 e 2021, o SVB cresceu junto com seus clientes, que nunca receberam tanto dinheiro como nesse período. Os depósitos no banco cresceram 86% em 2021.
Para dar conta desse volume de aportes, o SVB começou a colocar o dinheiro em títulos pré-fixados de longo prazo do governo, um investimento tido como super seguro.
Com os juros zerados, o rendimento também era baixíssimo.
O cenário azedou quando o Fed passou a subir os juros para frear a maior inflação nos EUA em 40 anos.
Os “donos do dinheiro” pararam de colocar recursos em startups, priorizando títulos do governo, que são mais seguros e passaram a ter maior rendimento.
Só que as startups ainda precisavam de capital para seguir operando. A solução foi começar a sacar o que elas tinham no SBV.
O QUE DEU ERRADO
A carteira do SBV estava muito concentrada nos títulos pré-fixados, cujos preços caem quando os juros sobem.
Para dar conta dos saques das startups, o banco vendeu US$ 21 bilhões desses papéis, a um prejuízo de US$ 1,8 bilhões, disse o SVB na quarta (8). Ao mesmo tempo, a instituição também comunicou que iria fazer uma emissão de ações para recuperar o prejuízo. Esse foi o gatilho da crise.
No dia seguinte (9), as ações do banco despencaram 60%, enquanto as startups e seus investidores, os fundos de venture capital, correram para sacar seu dinheiro com o temor de que ele falisse.
Os pedidos de retirada somaram US$ 42 bilhões –um quarto dos ativos da instituição. O banco quebrou.
E AGORA?
As autoridades querem evitar ao máximo que o movimento de retirada se contamine por outros bancos, principalmente os menores, como os regionais. Isso aconteceu com o Signature Bank, que tem como clientes escritórios de advocacia, e também acabou quebrando.
Para honrar com o pagamento aos clientes do SVB e evitar novas falência, as autoridades americanas trabalham com alguns planos.
A prioridade é achar um comprador, para que ele volte a operar. Se não tiver interessado, o FDIC (Federal Deposit Insurance Corporation) pode ser usado além dos seus limites.
O FDIC é o equivalente americano ao que é o FGC (Fundo Garantidor de Créditos) no Brasil, entidade mantida pelo banco que garante aos correntistas o ressarcimento em até determinado valor em caso de uma instituição ir à falência.
Nos EUA, esse limite é de US$ 250 mil, mas muitas contas do SVB estavam acima desse patamar.
O Fed também anunciou que vai criar um programa emergencial de empréstimo, bancado pelo Tesouro, para que bancos que tenham que compensar saques não precisem vender títulos do governo com prejuízo.
PRINCIPAIS IMPACTOS ATÉ AQUI
Algumas startups clientes do SVB ficaram sem dinheiro para pagar os salários dos funcionários, e recorreram a seus investidores ou até a empréstimos pessoais para apagar o incêndio.
Países como Índia, Israel e Reino Unido se movimentam para proteger as startups locais que tinham dinheiro no SVB. Empresas brasileiras também estão expostas ao banco, e algumas correram para transferir seus recursos na sexta, noticiou o jornal Valor Econômico.
O Nubank, a maior fintech do país, informou ao mercado não ter qualquer exposição ao SVB.
**STARTUP DA SEMANA: BARTE**
Com menos de um ano de operação, a Barte tem um modelo B2B (sigla para business to business, negócios entre empresas) e diz atuar para simplificar a gestão de caixa e facilitar o acesso a crédito.
Seus clientes são PMEs (pequenas e médias empresas) em que o fluxo de pagamentos é parte essencial da operação, como marketplaces, consultorias, fabricantes de equipamentos etc.
EM NÚMEROS
A startup anunciou na semana passada ter captado R$ 16 milhões em uma rodada seed (entenda aqui as etapas de investimento em startups).
O aporte se soma aos R$6,5 milhões anunciados há seis meses, quando a Barte dava seus primeiros passos.
QUEM INVESTIU
A rodada foi liderada pelo fundo NXTP –que tem na carteira pesos pesados como Nuvemshop e Cargox– e pelo fundo Force Over Mass, que estreia no Brasil com o investimento na Barte.
QUE PROBLEMA RESOLVE
A startup automatiza as transações de seus clientes, para que elas se preocupem menos com a gestão de caixa. Por sua plataforma, ela também facilita o acesso a crédito, que costuma ser um gargalo para as PMEs.
POR QUE É DESTAQUE
Além de a empresa ter registrado a maior captação seed da última semana, chama a atenção o volume captado –R$ 22,5 milhões– com menos de um ano de operação.
Nesse período ela atraiu mais de 2.000 clientes e movimentou mais de R$20 milhões pela plataforma. Para este ano, a meta é multiplicar de tamanho em dez vezes.
A SEMANA EM RESUMO
Foram 11 rodadas anunciadas por startups da América Latina, com US$ 50,6 milhões (R$ 262 milhões) em investimentos.
Os dados foram fornecidos pela plataforma Sling Hub.
**FUNDOS IMOBILIÁRIOS SENTEM CRISE DAS VAREJISTAS**
A crise no varejo que atingiu Americanas, Marisa e Tok&Stok acabou resvalando nos FIIs (fundos de investimentos imobiliários).
ENTENDA
Esses ativos têm contratos de aluguéis de galpões logísticos e lojas com as empresas, que deixaram de honrar com o pagamento.
O calote acabou afetando a distribuição de rendimentos aos cotistas, que, por serem isentos de IR, são o principal diferencial desse tipo de ativo.
Os FIIs, porém, têm a prerrogativa de entrar com uma ação de despejo. Se o imóvel for bem localizado e de alto padrão, devem conseguir encontrar novos locatários sem grande dificuldade.
OS PRINCIPAIS FUNDOS AFETADOS PELA CRISE NO VAREJO
Vinci Logística Fundo de Investimento Imobiliário (VILG11): informou em 15 de fevereiro que entrou com uma ação de despejo contra a Tok&Stok depois de ela não ter pago o aluguel de um galpão logístico em Extrema (MG).
O ativo representa 14% da receita do fundo e os cotistas acabaram recebendo como rendimento R$ 0,53 por cota em fevereiro, uma queda de 21% em relação à distribuição de janeiro (R$ 0,67). O pagamento do aluguel de fevereiro foi feito.
Kinea Renda Imobiliária (KNRI11): informou não ter recebido o valor do aluguel devido pela Marisa do mês de janeiro de um centro de distribuição em Itaquaquecetuba (SP).
O contrato da varejista representa só 4% da receita do fundo e não impactou na distribuição de rendimentos.
Brasil Varejo (BVAR11): não recebeu aluguel de janeiro da Marisa, com a empresa respondendo por 80% da receita imobiliária do fundo, o que teve um impacto na distribuição de R$ 5,95 por cota.
Os fundos VBI Logístico (LVBI11), Bresco Logística (BRCO11), VBI Real Estate, (LVBI11) e Max Retail (MARX11) têm exposição à Americanas, empresa em RJ (recuperação judicial).
Enquanto as dívidas do período pré-RJ serão negociadas durante o processo, os pagamentos devidos após a RJ seguem o trâmite normal.
**O QUE MAIS VOCÊ PRECISA SABER**
PETROBRAS
Sob Bolsonaro, Petrobras investiu menos e distribuiu 6 vezes mais dividendos. Política de venda de ativos e foco no pré-sal, que deu lucros recordes à estatal, será alterada pelo governo Lula.
MERCADO
Rival da Zara, Mango volta ao Brasil pelas mãos da Dafiti. Marca espanhola de fast fashion terá o desafio de encarar o fenômeno Shein na venda online de moda.
MERCADO
Haddad anuncia acordo de R$ 26,9 bilhões com estados para repor perdas de ICMS. Do total, cerca de R$ 9 bilhões já foram compensados por meio de liminares concedidas pelo STF.
AGRONEGÓCIO
Preço da carne tem maior queda em 15 meses; picanha foi a que mais barateou. Baixa de 1,22% em fevereiro foi intensificada pela suspensão das exportações para China, diz IBGE.
MERCADO
Mercado de comida para ‘o fim do mundo’ cresce nos EUA, com opções que duram 30 anos. Setor deve crescer 7% ao ano após boom na pandemia e foca de desastres naturais a defesa da liberdade.
LIBERDADE DE EXPRESSÃO
Responsabilizar redes sociais pode provocar remoção de conteúdo em massa, afirma advogada. Caitlin Vogus, do Centro por Democracia e Tecnologia, vê ameaça a liberdade de expressão em processo contra Google nos EUA.
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Fonte: Paraíba Online