ARTUR BÚRIGO
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Entenda por que a Apple é a única big tech que não anunciou uma demissão em massa na atual onda de cortes. Ações da Light despencam e escancaram problemas novos e antigos da distribuidora de energia e outras notícias do mercado nesta quarta-feira (8).
POR QUE A APPLE ESCAPOU DAS DEMISSÕES?
Amazon, Meta, Microsoft, Alphabet, Twitter, Salesforce, Tesla, Dell… A lista de grandes empresas de tecnologia que promoveram demissões em massa no atual cenário de juros altos não para de crescer.
Entre elas, porém, não aparece a maior em valor de mercado: a Apple.
O que explica?
Contratações: ao contrário de suas rivais, a companhia da maçã não expandiu seu quadro de profissionais em dezenas de milhares de funcionários durante o boom da digitalização forçada pela pandemia.
Demanda resiliente: mesmo com a alta da inflação, a procura pelos produtos da Apple se manteve forte, o que fez a empresa bater as estimativas de receitas dos analistas e cair menos na Bolsa. A companhia detém 20% das vendas de smartphones, mas concentra 80% dos lucros do setor.
Foco em serviços: a empresa também concentrou esforços em desenvolver suas ferramentas próprias, como Apple Pay e Apple Music, atraindo novas receitas.
Sim, mas… A empresa tem pela frente dois temas que podem virar uma baita dor de cabeça:
As brigas judiciais, tanto com outras companhias quanto com governos, devem aumentar. Além da bronca com os carregadores, há reclamações sobre a taxa de 30% que ela cobra sobre as compras realizadas nos apps de terceiros.
Os problemas recentes de produção na China, onde fica a maior fábrica de iPhones do mundo, aceleraram a estratégia de diversificar sua produção para a Índia. Mas a transição levará tempo e ela poderá ficar no meio de uma disputa diplomática entre EUA e China.
Mais sobre demissões em tecnologia
Nesta terça, a plataforma de videoconferência Zoom, uma das que mais cresceram durante a pandemia, anunciou a demissão de 1.300 funcionários, ou 15% do quadro de trabalhadores.
Veja como trabalhadores brasileiros do setor de tecnologia que eram habituados a trocar de emprego por opção tentam se acostumar com a realidade da demissão.
AÇÕES DA LIGHT DESPENCAM
As ações da distribuidora de energia Light afundaram 13,55% nesta terça, em nova rodada de perdas que marcam a desconfiança dos investidores em relação ao futuro da concessão.
No ano, elas já tombaram 38%. Desde 2020, a queda acumulada é de 88%.
O que explica: os problemas da Light são antigos, mas a queda das ações nos últimos dias é uma reação ao anúncio da companhia de que havia contratado a Laplace, conhecida por reestruturar companhias com problemas financeiros, entre elas a Oi.
Surgiram inúmeros boatos, entre eles o de que a empresa iria pedir recuperação judicial, algo que a lei proíbe para as distribuidoras.
Crise particular: a Light enfrenta uma série de desafios, que vão desde problemas de segurança pública no Rio de Janeiro até um contágio da crise da Americanas.
Um dos problemas é o prazo da concessão. A empresa atende 4,5 milhões de usuários no Rio de Janeiro, cujo contrato tem prazo de vencimento em junho de 2026.
Por causa desse limite, a companhia tem dificuldade de rolar sua dívida (que era de R$ 8,7 bilhões no 3º trimestre) com os bancos além de 2026.
Ao contrário de outras grandes distribuidoras, a Light tem apenas essa concessão, outro fator de risco analisado pelos bancos na hora de rolar a dívida.
Isso enquanto o mercado de crédito passa por um momento de estresse pelo caso Americanas. O bilionário Carlos Alberto Sicupira, um dos acionistas de referência da varejista, tem 10% da Light.
Há também as perdas na operação em áreas controladas pela milícia. Com o elevado custo com furto de energia e da inadimplência, a empresa queima caixa. São cerca de R$ 800 milhões por ano.
LULA X BC
Sai dia, entra dia e as trocas de recados entre o Banco Central e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) continuam.
Nesta terça (7), enquanto a autoridade monetária e o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, sinalizaram uma trégua, o presidente voltou ao ataque.
De um lado… Lula disse que não quer criar confusão com o BC, mas cobrou vigilância de Haddad, Simone Tebet (Planejamento) e de senadores.
Os dois ministros compõem, ao lado de Roberto Campos Neto, o CMN (Conselho Monetário Nacional), órgão que pode encaminhar ao chefe do Executivo o pedido de destituição do presidente do BC. A troca tem que passar pelo aval do Senado.
Do outro… Campos Neto disse que quanto mais independente o BC, menos o país paga o custo dos juros
Em ata da última reunião, o BC citou “especial preocupação” com a piora nas projeções de inflação e reafirmou seu compromisso para “reancorar as expectativas do mercado” –entenda mais abaixo.
Gesto: no que foi considerado um aceno do BC ao governo, o documento diz que a execução do pacote de Haddad que promete reduzir o rombo de R$ 242,7 bilhões poderia reduzir a pressão sobre a inflação. O ministro disse que a ata veio “mais amigável”.
Entenda aqui o que é a autonomia do Banco Central, por que a medida é alvo de críticas do governo e como a troca de farpas entre Lula e a autoridade monetária afeta a economia do país.
O que são as “expectativas de inflação” e por que elas importam? Quando os agentes do mercado acreditam que o BC fará seu papel a qualquer custo para colocar a inflação dos próximos anos na meta, as projeções dos analistas ficam “ancoradas” nessas metas.
Não é isso que vem acontecendo, como mostra a pesquisa da autoridade monetária com gente do mercado.
O problema é que esses cálculos esperando uma inflação maior –seja pelo risco fiscal ou por eventual ingerência do governo na política monetária– acabam gerando mais inflação, pressionando os juros futuros e forçando o BC a manter os juros altos por mais tempo.
É por essa razão que as críticas do presidente ao BC têm elevado as expectativas de inflação e gerado um efeito contrário ao pretendido pelo governo.
Opinião:
Com autonomia do BC, pessoas e empresas passam a esperar inflação mais baixa, e assim fica mais fácil conter o aumento dos preços, escreve o colunista Bernardo Guimarães.
O que Lula vai ganhar dando murro na faca de juros, gastos e estatais? Nada, afirma o colunista Vinicius Torres Freire
ITAÚ TAMBÉM CONTABILIZA PREJUÍZO COM AMERICANAS
O Itaú Unibanco foi mais um banco a antecipar eventual prejuízo por ser credor da Americanas em seu balanço do ano passado, antes do rombo contábil vir à tona.
– O Santander também havia feito isso na quinta (2), quando separou R$ 1,1 bilhão (cerca de 30% de sua exposição) em despesas com provisões (uma reserva dos bancos para cobrir calotes).
Em números: o Itaú aumentou sua despesa com provisão em R$ 1,7 bilhão no último trimestre de 2022.
– Falando de “empresa de grande porte que entrou em recuperação judicial”, em referência à Americanas, o banco disse que reforçou as despesas com provisões “para cobrir 100% da exposição, gerando um impacto de R$ 719 milhões no resultado final”.
Mais números: o lucro recorrente do Itaú foi de R$ 7,668 bilhões no quarto trimestre de 2022, alta de 7,1% ante 2021, mas abaixo da projeção média de analistas, de R$ 8,24 bilhões.
Mais sobre a recuperação judicial da Americanas
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Companhia pede à Justiça que Stone desbloqueie R$ 45 milhões.
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Fonte: Paraíba Online