Promessa da natação paralímpica quer seguir legado de Daniel Dias

Em 2006, um ano depois de Samuel Oliveira nascer, Daniel Dias disputou o primeiro Campeonato Mundial de natação paralímpica da carreira. Em Durban (África do Sul), Daniel conquistou cinco medalhas, sendo três douradas. Surgia, ali, o maior nome do paradesporto brasileiro até hoje, com 28 pódios em Paralimpíadas, 14 deles no topo. Dezessete anos depois, é justamente Samuel – ou Samuka, como é chamado – quem mostra credenciais para ser o sucessor natural do multicampeão das piscinas, que se aposentou após os Jogos de Tóquio (Japão), em 2021.

As semelhanças impressionam. Os dois são da mesma classe, a S5, que é intermediária entre as dez que são voltadas a nadadores com deficiência físico-motora – quanto menor o número, maior o grau de comprometimento. A precocidade também chama atenção. Em 2022, com 16 anos, Samuel estreou em Mundiais e voltou do Complexo de Piscinas Olímpicas de Funchal (Portugal) com as mesmas cinco medalhas que Daniel obteve em Durban, Por coincidência, três ouros e duas pratas.

O feito mais recente de Samuka (atualmente com 17 anos e que completa 18 em agosto) foi quebrar o recorde dos 100 metros (m) nado borboleta, durante a etapa de Sheffield (Reino Unido) do circuito mundial de natação paralímpica. O tempo do último domingo (19) foi um segundo e 35 centésimos mais veloz que a marca anterior, já que durava dez anos. O antigo dono? Daniel Dias.

“É uma responsabilidade muito grande ser comparado a ele. É um grande atleta e medalhista. É muito bom, apesar de tão jovem. Tenho certeza que vou continuar o legado que ele deixou”, disse Samuel, que teve os braços amputados aos nove anos, após sofrer uma descarga elétrica de 13 mil volts, quando tentava pegar uma pipa no alto de uma árvore utilizando uma barra de ferro.

Não foi a primeira vez que Samuka tomou para si uma marca do multicampeão das piscinas. Em 2021, durante a seletiva para formaçao da seleção brasileira que iria para Tóquio, o jovem cravou 33s57 nos 50 m borboleta, cravando o novo recorde das Américas da prova e melhorando o tempo que o ídolo havia registrado sete anos antes. O detalhe é que Daniel também esteve na piscina do Centro de Treinamento Paralímpico, em São Paulo, que recebeu aquele evento.

“Fiquei felizão, sem acreditar na hora. Foi uma experiência muito boa nadar ao lado dele. Ainda sou novo, um adolescente. Se conseguir seguir o caminho dele, sei que posso ir longe”, comentou o jovem, que tinha 15 anos na ocasião.

A marca, em tese, classificaria Samuel para representar o Brasil em Tóquio. O problema é que ele deveria ter participado, também, de ao menos um de quatro torneios específicos durante o ciclo – o que não aconteceu. O Comitê Paralímpico Brasileiro (CPB) tentou viabilizar uma exceção para o nadador junto ao Comitê Paralímpico Internacional (IPC, sigla em inglês), alegando o impacto da pandemia da covid-19, que dificultou a presença dos atletas em eventos no exterior, mas não teve jeito.

A frustração pelo sonho adiado deu lugar à ação. Samuka decidiu se mudar de São Paulo para Uberlândia (MG), passando a integrar a equipe paralímpica do Praia Clube. Um dos parceiros de agremiação é o primo Tiago Oliveira – que o tentou ajudar a tirar a pipa da árvore e também foi atingido pela descarga elétrica, precisando amputar os braços. Os dois, inclusive, foram juntos ao pódio da prova dos 200 m nado medley do Mundial de Funchal (Samuel conquistou a prata e Tiago foi bronze).

Além do primo, Samuel nada com outros atletas experientes em competições pela seleção brasileira, como os campeões paralímpicos Talisson Glock e Gabriel Bandeira e Andrey Garbe, bronze nos Jogos do Rio de Janeiro, em 2016. Ao lado principalmente deste último, que perdeu a perna direita devido à trombose e à meningite bacteriana, Samuka passou a gravar vídeos, publicados nas redes sociais, tratando as respectivas deficiências físicas de forma bem-humorada.

“Queremos mostrar às pessoas que têm deficiência que não somos coitados. Uma maneira de se divertir, distrair, mostrar do que você é capaz. É engraçado e gratificante saber que nossos vídeos chegam a tantos lugares. Antes de perder os braços, eu não conhecia nenhuma outra [pessoa com] deficiência. Somente cadeirantes. Então, é importante mostrar ao público que não somos somente deficientes, mostrar nossa rotina e como lidamos com a deficiência”, destacou o atleta, que aprendeu a nadar durante a reabilitação, na Associação de Assistência à Criança Deficiente (AACD), em São Paulo.

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Fonte: Paraiba.com.br

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