O futebol não faz bem à saúde.
Sério.
Não faz mesmo.
Futebol, antes de mais nada, é dor, sofrimento, raiva, angústia, medo, tristeza.
É incredulidade, choro ardido, desespero sufocante, prostração lancinante.
O futebol é, insisto um pouco mais, desnorteamento.
Ver e não entender. Buscar se acalmar e só sentir a tragédia invadir o coração. Procurar amparo no outro e perceber que todos os demais companheiros estão igualmente apavorados, transformados em crianças que anseiam por acalento.
As pessoas gostam de romantizar o jogo, transformá-lo em arte, em palco preferencial dos sonhos, dos amores, da arte, da beleza, do encanto.
O pior é que, no rigor dos fatos, não deixa de ser verdade essas nuances que fazem toda a diferença.
O erro, e esse não é pequeno, muito menos inofensivo, é fazer o torcedor desavisado acreditar que essa é a regra primordial do jogo.
Não é!
A festa é exceção. O arrebatamento é transitório. O sonho é o que é: projeção simbólica do intangível.
Tudo bem, justo por ser efêmera, rara, fugaz, é que a glória é tão espetacularmente vivida, tão magnificamente comemorada.
É a mais angustiante das dicotomias da vida.
Você precisa morrer mil vezes para que, quando finalmente sobreviver, admirar o quão belo e encantador é o futebol. O quão inesquecível há de ser o acesso para a Série B.
Nesse domingo (17), contra o Paysandu, diante de um gol aos 55 minutos do segundo tempo, de um piscar de olhos que tirou o Belo do G2 direto para a lanterna de seu grupo, o botafoguense viveu mais uma dessas provações, dessas preparações dolorosas que, assim queremos acreditar, antecipam a eternidade.
Ainda não acabou, eu sei.
Sábado (23) tem jogo, tem Botafogo-PB de novo, tem reinício, tem mais uma peregrinação repleta de otimismo que converge diferentes identidades a um mesmo Almeidão.
Enquanto houver chances, haverá esperanças. E é justo essa teimosia o que torna o torcedor uma figura tão mítica e apaixonante.
Mas, haveremos de admitir, ninguém vira torcedor do Belo e permanece indiferente.
A dor, muitas vezes física, antecipa a felicidade.
Tem que antecipar.
Não é concebível que todo o torcer, a entrega, a abnegação inquietante, seja em vão.
Pois sábado, o torcedor mais uma vez vai ao Almeidão para ser feliz.
Talvez não seja, é fato.
Mas contra todos os prognósticos, contra a própria lógica do futebol, é a busca pela felicidade, e não a probabilidade do sofrimento, que nos embala até o fim.
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Fonte: Jornal da Paraíba