O joio do trigo #53: Alzheimer – Frágil lastro de lembranças

A vida se desenrola sobre um frágil lastro de lembranças. Somos, essencialmente, a continuidade daquilo que recordamos. O que acontece, então, quando a memória nos escapa, quando o fio narrativo de nossa própria existência se desfaz como areia entre os dedos? Esta semana, um filme me fez refletir sobre esse labirinto invisível: “Ainda Estou Aqui”. No desfecho, Eunice de Paiva, interpretada por Fernanda Montenegro, surge fragilizada por uma luta contra o Alzheimer, uma batalha travada por quase 15 anos. Esse dado me fez revisitar um estudo que realizei durante um MBA no ICMC/USP, no qual utilizei dados do DATASUS para compreender melhor essa doença no Brasil. 

Vamos separar o Joio do Trigo?

O chique é ser simples 

A doença de Alzheimer (DA) representa um dos desafios mais complexos da medicina contemporânea. Além de comprometer profundamente a autonomia individual, afeta os laços que nos conectam ao mundo e às nossas próprias histórias. No Brasil, estimativas recentes indicam que cerca de 8,5% da população com 60 anos ou mais convive com algum tipo de demência, representando aproximadamente 2,71 milhões de pessoas. Desse total, a DA é responsável por cerca de 70% dos casos.  Em relação à incidência, dados apontam que aproximadamente 100 mil novos casos de demência são diagnosticados anualmente no país. 

Na era da informação, a ciência de dados amplia nossa capacidade de identificar padrões antes imperceptíveis, permitindo uma análise mais detalhada dos fatores que influenciam o percurso da doença. Em meu estudo, recorri ao DATASUS para mapear a trajetória diagnóstica dos pacientes e explorar o potencial do aprendizado de máquina na predição da evolução da DA. A metodologia utilizada foi previamente abordada na edição 50 do Joio, no contexto das doenças raras.

Os achados desse estudo revelaram insights interessantes. O modelo preditivo desenvolvido alcançou uma alta taxa de acerto na previsão da doença, com a idade se destacando como o fator mais influente no diagnóstico, um dado esperado, mas ainda assim relevante. 

Exames oftalmológicos também surgiram como um possível indicador: houve uma correlação entre mapeamentos da retina e menor ocorrência da doença, mas ainda não há explicações definitivas sobre essa associação. As tomografias computadorizadas apareceram com frequência em pacientes diagnosticados, mas os dados não esclarecem se o aumento da realização desses exames resulta de um maior monitoramento da doença ou se pode estar associado a algum fator de risco específico 

Os desafios biomédicos do Alzheimer são complexos, e a realidade econômica da doença adiciona uma camada significativa de urgência ao problema. Estudos recentes indicam que o custo anual por paciente no Brasil é de aproximadamente US$ 16.548,24. Com o envelhecimento populacional, projeta-se que o número de casos de demência no país aumente de 2 milhões atualmente para 6 milhões em 2050, elevando as despesas totais de R$ 96,7 bilhões em 2022 para R$ 199,4 bilhões em 2050.  A maior parte desses custos (78%) é composta por custos indiretos, como o cuidado informal oferecido por familiares. Esse cenário impõe um peso não apenas sobre os pacientes e suas famílias, mas também sobre o sistema de saúde, que precisará se reinventar para lidar com esse desafio.

Para quem tiver interesse no estudo completo, ele está disponível para download no seguinte link:

TCC_MBA_ICMC.pdf866.91 KB • PDF Arquivo

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