Conforme combinado, estamos de volta com a segunda edição sobre o tema das apostas esportivas. Agradecemos todas as sugestões recebidas e ficamos felizes com os feedbacks positivos sobre conectar pontos que, inicialmente, não pareciam relacionados.
O desafio desta edição é, a partir do momento em que estabelecemos essa conexão tênue, manter o foco em tópicos que permitam aos nossos leitores construírem suas próprias análises de acordo com seu interesse e setor.
Dito isto, vamos separar o joio do trigo?
O chique é ser simples
No começo deste mês de Abril, o programa Pânico na TV abordou o assunto (post a seguir), revelando que o CEO de uma grande rede de varejo alimentar disse que as apostas esportivas têm impactado os resultados da rede. Porém, os leitores do Joio tiveram esse insight antes, de camarote claro.
Brincadeiras à parte, o mercado de apostas esportivas é composto por diversos atores, entre eles as empresas de apostas. Estas empresas que operam no Brasil, em sua maioria, têm suas licenças de operação sediadas em outros países, sendo Reino Unido, Malta e Curaçao os mais populares. Esses Países oferecem regimes regulatórios, com exigências diferentes, mas que facilitam a operação internacional deste mercado.
Portanto, fazer uma aposta esportiva no Brasil em casas de apostas com sede no exterior, em geral, deve envolver uma operação de fechamento de câmbio. O fechamento de câmbio é o processo pelo qual a moeda local é trocada por uma moeda estrangeira, permitindo a realização da aposta. Esse processo é intermediado por instituições financeiras autorizadas a operar no mercado de câmbio no Brasil, como bancos e corretores. O fechamento de câmbio é essencial para garantir que a transação seja realizada de acordo com as normas do Banco Central do Brasil, que regula as operações de câmbio no país.
Seguindo essa lógica, as remessas feitas para as empresas de apostas que têm suas licenças no exterior deveriam constar nas estatísticas divulgadas pelo Banco Central. Segundo um estudo da Folha de São Paulo, a partir de dados do Banco Central, os gastos de brasileiros com jogos e apostas online, as chamadas ‘bets’, atingiram cerca de US$ 11,1 bilhões entre janeiro e novembro do ano passado, o equivalente a R$ 54 bilhões.
(crédito: Divulgação/ TV Globo)
Este expressivo montante de R$ 54 bilhões corresponde a remessas feitas para empresas do setor de jogos e apostas online. Esse valor acumulado em 11 meses é maior do que o movimentado pelas exportações brasileiras de carne bovina em todo o ano de 2023, estimadas em US$ 9,5 bilhões (R$ 46,3 bilhões), segundo dados da Secex (Secretaria de Comércio Exterior), ligada ao Mdic (Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços).
O Brasil é um dos maiores exportadores de carne bovina no mundo, e a exportação desse produto sempre foi uma vitrine importante para o país. No entanto, agora, os gastos com jogos e apostas online vence por goleada as exportações de carne bovina.
Segundo o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA), os dois principais exportadores mundiais de carne bovina são o Brasil e a Austrália. Em 2023, o Brasil foi o maior exportador de carne bovina do mundo, seguido pela Austrália e Índia. Essas estatísticas ajudam os nossos leitores a ter dimensão e melhor entendimento dos volumes citados.
Um ponto importante é que não temos aqui o objetivo de analisar o impacto das apostas esportivas na balança comercial, câmbio ou qualquer outra métrica relacionada a este tema. Neste caso, é importante considerar também os valores que retornam aos apostadores quando eles ganham, o que envolve a probabilidade da casa de apostas perder. Porém, queremos enfatizar principalmente o volume de recursos aplicados na “intenção” de apostar.
A nossa discussão nessas duas edições, feita a partir apenas de dados públicos, tem como objetivo enfatizar que a regulamentação desse mercado em andamento precisa ser efetiva e constantemente discutida. Como você pode perceber leitor, trata-se de um mercado de grande amplitude e com impactos em diversas áreas da economia. Essa discussão visa permitir que novas empresas e tecnologias apoiem este mercado de apostas esportivas em todo o seu ciclo, por exemplo, na análise de risco.
O câmbio e a balança comercial foram usados apenas como pano de fundo para essa discussão, sem a intenção de aprofundar conceitos econômicos. O importante aqui no Joio é sempre discutirmos a partir de dados concretos, pois, como dizia Fiori Gigliotti (1928/2006), um dos mais icônicos narradores do futebol brasileiro, após um gol: “Agora não adianta chorar”.
A era da IA está apenas começando!
Adoramos uma indicação!
Se você conhece alguém que possa gostar do nosso trabalho, agora você pode indicá-lo.
Clique aqui para ler a notícia em seu site original
Diretamente de O Joio do Trigo