Caetano Veloso disse que Roberto Carlos vem de regiões profundas do ser do Brasil. Uma definição fiel à dimensão deste artista a quem chamamos de Rei.
Pois podemos usar a frase para o Rei do Baião. Luiz Gonzaga vem de regiões profundas do ser do Nordeste.
Dimensiona muito bem o homem que, junto com Humberto Teixeira, transformou o tema regional Asa Branca num dos clássicos da música popular brasileira.
Estou lembrando de Luiz Gonzaga nesta sexta-feira, 13 de dezembro, porque é o dia em que ele nasceu, em 1912.
Fui apresentado às suas músicas quando era garoto. O Nordeste na Voz de Luiz Gonzaga era o título do LP que eu ouvia na casa do meu avô paterno.
Mas há uma outra lembrança da infância. Na minha rua, a Conceição, em Jaguaribe, havia festa de Santo Antônio, São João e São Pedro. Grandes festas populares que eram compartilhadas com a vizinhança.
Numa delas, o que mais se ouvia era Gonzaga cantando: “A fogueira está queimando em homenagem a São João”. Mesmo que ele amargasse o ostracismo.
Tenho muito orgulho de ter ouvido Luiz Gonzaga em seu tempo. Mais ainda: de tê-lo visto de perto, ao vivo, inúmeras vezes. E já com a consciência absoluta de que estava diante de um dos fundadores da canção popular brasileira.
Um gigante. Um artista autêntico, verdadeiro em sua simplicidade e sua força intuitiva. Luiz Gonzaga, seus trajes de Rei do Baião, sua sanfona, suas músicas belas e impregnadas de melancolia.
O melhor pop nordestino produzido para atravessar o tempo e inserir-se na memória afetiva de milhares de pessoas, rurais ou urbanas, que cresceram ouvindo aquelas canções em casa e nas nossas festas juninas.
Uma vez, me pediram para enumerar as músicas que prefiro no extenso repertório de Luiz Gonzaga. A seresta nordestina Légua Tirana é uma delas.
Estrada de Canindé e A Morte do Vaqueiro também estão entre as prediletas, bem como Noites Brasileiras e Olha pro Céu, uma marchinha junina comovente.
O Xote das Meninas é uma delícia. Da parceria com Zé Dantas. Tema universal tratado com olhar regional.
Precursora da canção de protesto, Vozes da Seca estava nas audições com meu avô. Assum Preto é Asa Branca em tom menor. A lista não tem fim.
Na segunda metade dos anos 1970, fui à Assembleia Legislativa ver Luiz Gonzaga receber o título de cidadão paraibano.
O discurso de tom regionalista me pareceu ingênuo diante da universalidade das coisas, mas ele merecia todos os aplausos, a despeito das críticas que lhe eram feitas por causa da defesa da ditadura e da não autoria das canções.
Luiz Gonzaga era (e assim permanece) muito maior do que o que se podia dizer de negativo a seu respeito.
O encontro com o filho Gonzaguinha, na turnê que passou por João Pessoa no início da década de 1980, não sairá da memória de quem o testemunhou. A maior homenagem a Luiz Gonzaga é nunca deixar de ouvi-lo.
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Fonte: Jornal da Paraíba