Juca Ferreira avalia desafios, potencialidades e dramas do Audiovisual Brasileiro em seminário histórico promovido pelo BNDES

Por Walter Santos com assessoria do BNDES

 

Chegou o dia. Será nesta quarta-feira, 30, o momento de reflexões e debates no seminário “BNDES do Audiovisual Brasileiro” na sede do Banco, no Rio, reunindo autoridades, especialistas e profissionais para refletir, discutir e propor ações para o setor audiovisual a partir de uma estratégia de desenvolvimento nacional. Para saber mais sobre a importância da retomada dessa indústria para a economia do país, entrevistamos Juca Ferreira, assessor da presidência do BNDES e ex-Ministro de Estado da Cultura. Na conversa, ele comenta os desafios frente aos novos formatos e tecnologias, a necessidade de políticas de incentivo governamentais e analisa a falta de regulamentação do setor.

 

 

A ENTREVISTA

 

 

Quais são os principais desafios econômicos, políticos e sociais que a indústria audiovisual brasileira enfrenta no período pós-pandemia?

 

 

Juca Ferreira: Temos desafios de longo, médio e curto prazo. Precisamos definir um conjunto de medidas para garantir a retomada do setor através de uma ação vigorosa do governo e do Estado brasileiro para dar início a um novo ciclo do cinema e do audiovisual brasileiro. Cada órgão do Governo Federal que tem relação direta ou indireta com o cinema e o audiovisual terá que fazer uma espécie de dever de casa, reestruturar a instituição e superar a destruição praticada no governo passado.

Como assim?

Juca Ferreira: Uma ação conjunta, por exemplo, coordenada e sinérgica do MinC, MDIC, ANCINE, BNDES, APEX, Banco do Brasil, Petrobras, pelo menos, dará como resultante o impulso para termos um cinema e um audiovisual forte, à altura da grandeza do Brasil.

Temos que fazer como os coreanos do sul fizeram, definir um plano estratégico para colocar definitivamente o cinema e o audiovisual brasileiro em um patamar cultural e econômico de sucesso, no Brasil e no mercado internacional.

Que metas de imediato?

Juca Ferreira : O cinema e o audiovisual, por sua importância, terá que se transformar em política de Estado, assim como o conjunto da cultura também. Não haverá desenvolvimento econômico e social do Brasil no século XXI sem desenvolvimento cultural. 

 

De que forma a indústria do cinema e do audiovisual contribuem diretamente para o PIB nacional e quais são os impactos diretos e indiretos dessa contribuição?

Juca Ferreira: Já é significativa a contribuição econômica do setor para o PIB brasileiro, bem acima da contribuição de muitos outros setores tradicionais da nossa economia. Se assumirmos esse setor e toda a cultura como uma economia importante, fazendo os devidos investimentos, a contribuição poderá ser muitas vezes maior. 

 

Qual é o papel das políticas de incentivo e de financiamento na promoção da diversidade cultural e na criação de oportunidades para novos talentos no cenário audiovisual brasileiro?

Juca Ferreira: Central! Se tratarmos o cinema e o audiovisual apenas como um fato econômico, com certeza fracassaremos. É preciso investir nos processos culturais porque o desenvolvimento cultural do país ao acesso de todos será o ambiente que possibilitará o surgimento de novos talentos, o florescimento da criação, e o crescimento da nossa força cultural alimentará essa indústria e as outras indústrias culturais. 

 

Como a colaboração entre instituições governamentais, produtoras, distribuidoras e outros atores relevantes pode fortalecer a indústria audiovisual brasileira e promover a diversidade e inclusão no setor?

Juca Ferreira: A desarticulação do Estado traz um prejuízo enorme, e a ação articulada, planejada e em sintonia, permitirá muito mais do que uma soma aritmética desses recursos que será disponibilizado. Daí a importância de termos uma política de Estado para a cultura e para o cinema e o audiovisual. Não temos tempo a perder. 

 

Muito se tem discutido em relação à ausência de regulamentação de mercados mediados por plataformas digitais no Brasil. Como isso impacta a indústria cinematográfica e o audiovisual em relação à concorrência com os grandes players globais do setor?

Juca Ferreira: O mundo inteiro, principalmente os países que ambicionam serem mais do que meros consumidores de uma produção global, está regulando seus mercados internos e protege os artistas, técnicos e empreendedores das ações predatórias vinda de fora. Precisamos avançar na regulação do nosso mercado e vamos ter que regular imediatamente o streaming e a ação das plataformas globais no país. 

 

Com a ascensão dos serviços de streaming, quais são as oportunidades e desafios específicos que a indústria audiovisual brasileira enfrenta para se adaptar e prosperar nesse novo cenário?

Juca Ferreira: O mercado está vivendo grandes transformações. Teremos que desenvolver uma capacidade gigantesca de análise e uma agilidade regulatória que consiga acompanhar essas mudanças, senão sucumbiremos por uma espécie de frouxidão legislativa. No momento, herdamos do governo anterior uma situação trágica. Estamos parecendo terra de ninguém! Estão nadando de braçada e fagocitando os direitos autorais e patrimoniais dos artistas e empreendedores brasileiros. Como diria Guimarães Rosa, o que a vida está querendo de nós é coragem! Coragem, lucidez e agilidade.

 

 

QUEM É – Juca Ferreira é sociólogo com trajetória profissional dedicada à vida política e às ações sociais, culturais e ambientais. Foi Ministro de Estado da Cultura do Brasil, comandando o MinC em dois períodos: 2008-2010 e 2015-2016. Também foi Secretário de Cultura do município de São Paulo, entre 2013 e 2014, e de Belo Horizonte, entre 2017 e 2019. Atualmente é assessor da presidência do BNDES. 

 


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Fonte: WSCOM

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