A borboleta, O livro negro, O sorriso, Pelicano. A pinça, O solícito, O estímulo, Echo. Chique, Novenar antigo, Mercúrio, Árcade. Lidos em sequência, podem soar aleatórios e sem sentido, mas, juntos, eles ajudam a contar a trajetória do desenvolvimento do jornalismo que chega às mãos dos leitores na tangibilidade do papel.
Em História da Imprensa na Paraíba – Jornais e revistas (Editora A União e Eduepb, 504 páginas), do jornalista campinense Gilson Souto Maior, cria essa narrativa cronológica realizada desde A Gazeta do Governo da Parahyba do Norte, em 1826, passando por quase uma centena de periódicos, até chegar aos dias atuais, em que o Jornal A União permanece sendo o único a ser produzido diariamente.
O livro será lançado nesta quarta-feira (dia 26), às 18h30, na Livraria A União, no Espaço Cultural, em João Pessoa. O evento integra a programação dos 50 anos do Curso de Comunicação da UEPB, através da Eduepb, com apoio da Editora A União.
“Esse é um trabalho memorialístico em que falo sobre a existência dos jornais na Paraíba até os dias de hoje, nesse momento difícil com o fechamento de muitos jornais impressos. Senti-me na obrigação de fazer esse grande trabalho de pesquisa para as futuras gerações”, afirma Souto Maior.
“Tive por objetivo mostrar às pessoas a importância da força do jornalismo e o comportamento político e empresarial desses jornais, a exemplo dos que eram a favor do império, outros da república, outros combatiam o poder vigente, ou os que defendiam o povo e o comércio”. Para esse levantamento, o autor levou dois anos e meio entrevistando jornalistas e pesquisando por acervos em sebos, bibliotecas e repositórios de universidades públicas.
Dando conta de fazer um retrospecto por um período de tempo tão vasto, o livro retrata principalmente o desenvolvimento da linguagem jornalística através de oito centenas de imagens e ilustrações de capas dos noticiosos, citando os veículos de comunicação – dos mais efêmeros aos mais longevos e influentes –, além de resgatar uma diversidade de equipamentos tecnológicos disponíveis no decorrer dos anos para a prática jornalística.
Gilson Souto Maior conta ainda com sua própria experiência como um profissional que passou pelo impresso, pela rádio, TV e assessoria de imprensa para construir a obra com um olhar focado nas instituições, nas empresas de comunicação e nos perfis das pessoas que delas fizeram parte. Por mais de 500 páginas, o autor atrela em seu livro a criação e término de tantos jornais às relações com o contexto político, social e econômico de cada época da Paraíba.
Algumas dessas histórias, porém, se destacam por seu caráter pitoresco e que ajudam a dar a dimensão da pluralidade de jornais na história da Paraíba. Um exemplo disso vem de abril de 1894 com a semanal The Parahyba Times, jornal estadual produzido inteiramente em língua inglesa.
“Na Biblioteca Nacional, só existem quatro exemplares desse jornal. Eu pensava que isso teria relação com a influência inglesa dos grandes produtores de algodão de Campina Grande, considerada a Liverpool brasileira. Mas Gonzaga Rodrigues relaciona isso à implantação das redes férreas administradas pela Great Western, que inaugurou a estação em Campina Grande, em 1909”, revela Souto Maior. O livro conta com a ilustração do fac-símile original e reproduz a mesma página diagramada com tradução para o português.
A leitura criteriosa de História da Imprensa na Paraíba leva, segundo o seu autor, ao reconhecimento de quatro principais épocas dos jornais do estado.
“A mais importante foi o início de tudo, sem dúvida alguma. A outra é a do século 19, que foi rico para o nascimento de um número incalculável de jornais, provando a força da imprensa e inclusive com a perseguição de muitos jornalistas daquela época. Outro aspecto da força do jornalismo paraibano está presente no século 20, com a Revolução de 1930, até porque essa mesma imprensa enfrentaria o governo ditatorial de Getúlio Vargas. Por último, eu destacaria o período que vai de 1950 a 1990 para lançar nomes para o campo político, como, por exemplo, o de José Américo de Almeida”, cita Gilson Souto Maior.
Como aponta o título do livro, o foco da pesquisa também se estende à história das revistas, que começaram a circular por aqui desde o século 19, sendo voltadas inicialmente ao entretenimento e à cultura. A primeira delas é a Alva, de 1850, seguida por A ideia, Boletim Eclesiástico e Nova Era.
Entre as curiosidades dessa sessão na publicação está uma revista produzida entre 1926 e 1937, exclusivamente por mulheres, antes mesmo que elas tivessem direito a votar. A publicação mensal era a cajazeirense Flor de Liz, da Acção Social Catholica Feminina, que abordava temas limitados à moda, culinária, casamento, família e religião. Assim como o sufrágio, nem toda conquista significou um avanço real de emancipação social.
Com tantos aspectos a serem aprofundados, o livro demonstra de forma inconteste como o jornalismo atingiu seu grau de importância e influência para a democracia devido, inclusive, ao meio pelo qual ele é veiculado, sendo o seu formato tão importante quanto o próprio conteúdo da mensagem. O formato físico do jornal, suas características e limitações, influenciam significativamente a maneira como as notícias são percebidas e compreendidas pelo público.
Autor de outros trabalhos similares nesta mesma área do conhecimento, a exemplo de Rádio História e Radiojornalismo e História da Televisão na Paraíba, Gilson Souto Maior afirma que ainda está longe de concluir seu trabalho de estudioso da comunicação.
“Não vou parar porque sou muito irrequieto. Eu me preocupo muito com a memória e sou um pesquisador das coisas. É preciso fazer isso para que a história não morra nunca e as pessoas possam ter a oportunidade de serem lembradas. Enquanto estiver vivo, continuarei falando sobre essas mudanças”, finaliza o jornalista.
* Ascom/A União
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Fonte: Paraíba Online