Je t’aime, je t’aime. Os gemidos de prazer de Birkin foram censurados pela ditadura brasileira

Virada da década de 1960 para a de 1970. Eu estava passando da infância para a adolescência quando a canção Je T’aime, Moi Non Plus chegou ao Brasil. A Censura não hesitou: proibiu sua execução pública (emissoras de rádio e TV, boates, festas, etc.) e restringiu a venda do disco a maiores de 18 anos. Eu já frequentava as lojas de discos da cidade e foi numa delas que ouvi pela primeira vez a música de Serge Gainsbourg interpretada em dueto pelo autor e por sua mulher, a cantora e atriz franco-britânica Jane Birkin.

O cara da loja de discos me botou na pequena cabine reservada a clientes que, geralmente, compravam álbuns de música clássica e de jazz, e o erotismo da canção me arrebatou. Imaginem um menino de uns 11 anos ouvindo os gemidos de prazer de Jane Birkin naquela cabine fechada e à prova de som. A loja, que se chamava Stop, ficava na esquina da Miguel Couto com a Duque de Caxias. Foi aquela audição de mais de 50 anos atrás que me veio à memória quando soube, neste domingo (16), que Jane Birkin havia morrido.

Nascida na Inglaterra, nacionalizada francesa, Jane Birkin tinha 76 anos e perdera a saúde desde que sofreu um acidente vascular cerebral. Uma cuidadora a encontrou morta. Foi casada com John Barry, excepcional compositor de música de cinema, e, em seguida, com Serge Gainsbourg, notável compositor popular da França. Charlotte Gainsbourg, sua filha com Serge, é uma respeitada atriz. Serge Gainsburg e Jane Birkin, no auge da fama, eram um dos casais mais badalados do universo pop.

Em A Bossa da Conquista, de Richard Lester, Jane Birkin faz uma ponta e ainda não é notada. Mas todos viram Birkin e seu nu frontal em Blow-Up, de Michelangelo Antonioni, um dos filmes mais evocativos da Londres da segunda metade dos anos 1960. Em A Piscina, contracenou com Alain Delon e Romy Schneider. Filmou muito e também gravou muito, além de ter se tornado símbolo da moda do seu tempo quando seu sobrenome batizou as bolsas Birkin – quem não lembra delas? Quem, no fundo, não as cobiça?

A nota de pesar divulgada neste domingo pelo ministro da Cultura da França dimensiona corretamente a figura de Jane Birkin. Sua morte comoveu o mundo do cinema, da música e da moda. Birkin estava em Londres quando a capital da Inglaterra vivia a Swinging London e em Paris quando a capital da França mal saíra da turbulência do maio de 1968. Linda, sensual, uma verdadeira musa, ela foi – e assim permanecerá sendo – um poderoso ícone pop do seu tempo.

Fecho com Je T’aime, Moi Non Plus.

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Fonte: Jornal da Paraíba

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