Mas se o Brasil chorou a morte de Tancredo naquele domingo, também teve motivos para sorrir. Do outro lado do Oceano Atlântico, no Autódromo do Estoril, Ayrton Senna conquistava a primeira das das 41 vitórias de sua carreira na Fórmula 1. Um feito que completa 40 anos nesta segunda-feira (21).
Para quem esteve lá, este cenário se tornou inesquecível. “O fim de semana da primeira vitória do Senna, há 40 anos, foi um fim de semana de sentimentos distintos. Porque foi o fim de semana da morte do Tancredo Neves, que tinha sido eleito presidente do Brasil. Seria o primeiro presidente civil depois da época da ditadura militar”, relembra Galvão Bueno ao Band.com.br. “Mas no fim de semana foi a primeira vitória do Ayrton Senna, Estoril, na chuva, foi um espetáculo. Ali, ele já tinha mostrado antes, no GP de Mônaco (1984), a capacidade dele de dirigir na chuva. Foi uma coisa maravilhosa.”
Senna estava em sua segunda temporada na F1, a primeira com a Lotus – em 1984, estreou como titular da Toleman. Se antes a Lotus chegou a dominar a categoria, agora vinha com uma força secundária, com apenas uma vitória entre 1979 e 1984.
Mas a chegada de Ayrton Senna recuperou a moral da equipe. No GP do Brasil que abriu o campeonato, o brasileiro abandonou, mas o italiano Elio de Angelis conquistou o terceiro lugar. Depois, veio o GP de Portugal, no qual Ayrton conquistou a pole position – também a primeira de sua carreira na F1.
Tinha que ser na chuva
A chuva que caiu sobre o Estoril naquele domingo pesou a favor de Senna. Desde a largada, o brasileiro imprimiu um ritmo forte e deixou para trás os rivais, que sofriam para manter o carro na pista. Exemplo disso: na 31ª volta, de um total de 67, Alain Prost tentou ultrapassar Elio de Angelis para assumir o segundo lugar, mas rodou sozinho na reta dos boxes e abandonou.
Prost não foi o único. Nomes como Riccardo Patrese, Pierluigi Martini, Gerhard Berger e Keke Rosberg também rodaram. No fim, dos 26 carros que largaram, apenas nove completaram a prova – sendo que sete deles levaram pelo menos uma volta de Ayrton Senna. Michele Alboreto foi o segundo com a Ferrari, enquanto Patrick Tambay foi o terceiro com a Renault.
“Eu pensei que fosse tão difícil ganhar a primeira corrida, e não tinha ganho ainda”, lembra Reginaldo Leme. “Então essa era uma grande chance. Mas como era a primeira e ele estava muito ansioso, ele só teve, vamos dizer, certeza na cabeça dele de que iria vencer quando a previsão era de muita chuva.”
Originalmente, a prova teria 70 voltas. No entanto, por causa da chuva, Senna atingiu o limite de 2 horas com 66 voltas, recebendo da direção de prova o aviso de última volta. Senna comemorou muito, mas reconheceu que as condições eram pouco favoráveis, e disse que torcia para que a corrida fosse encerrada antes do fim.
“O carro do Rosberg ficou atravessado no meio de uma curva, em uma posição muito perigosa. Faltou pulso aos organizadores para encerrar a corrida antes do final”, afirmou Senna após a prova, segundo o jornal Folha de S. Paulo. “Perdi a conta das vezes em que estive a ponto de bater em outro carro. As condições de pista eram tão perigosas que cheguei a pedir sua suspensão.”
Logo de cara, Ayrton deixava a pista com um feito histórico. “No final, ele acabou não só vencendo, mas marcando o chamado Grand Chelem, que é pole position, vitória de ponta a ponta e melhor volta”, lembra Reginaldo.
Após a corrida, Senna se encontrou com convidados para jantar. Galvão elogiou o amigo, que surpreendeu na resposta. “Depois da corrida, nós fomos jantar, ele convidou os brasileiros todos que estavam lá para jantar, e eu disse: ‘Ô, Becão, eu vou torcer para chover toda corrida’. Ele falou: ‘É porque tu não tá dentro do carro, né? Você não sabe quantas vezes eu quase saí da pista’”, contou Galvão. “Mas foi um espetáculo”, concluiu.
Festa e tristeza
Reginaldo Leme também se lembra daquele jantar histórico que marcou não apenas a primeira vitória de Senna, como também o fim do jejum da Lotus. Naquela temporada, a equipe também venceria os GPs de San Marino (com De Angelis) e da Bélgica (com Senna).
“Desde 1982 que a Lotus não vencia uma corrida. Na vitória, a gente passou rapidamente, cada um no seu hotel, e a gente foi jantar num restaurante na Praia do Guincho, em Portugal. Tem vários lá, e nós fomos lá, tinha uma mesa grande, porque tinha vários amigos portugueses também”, lembrou o comentarista.
“E era uma festa, a gente fez uma grande festa, foi muito bacana. Ele estava muito feliz, até a gente receber a notícia, naquele dia, da morte do presidente Tancredo Neves aqui no Brasil. Aí deu uma baixada de bola e assim terminou a noite.”
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Fonte: Paraiba.com.br