No filme-carta Jacumã (2014, 8’) realizado pelos estudantes da Escola Municipal Deputado José Mariz, localizada no Conde (PB), somos levados por Aurynha para um dia de pesca com sua família. No começo, acompanhamos um barco navegando em direção ao mar com alguns pescadores e crianças a bordo. Ao chegar no destino, o barulho do motor cessa e a voz de Aurynha surge, apresentando-se enquanto remetente do filme. A sua fala mergulha nos hábitos ligados à maré, na cultura da pesca artesanal enraizada em sua ascendência, nos nomes dos peixes…
Na companhia das imagens, criam-se também novas possibilidades de conhecer e partilhar o mundo, de modo que a pesca é afetada pela invenção com o cinema, promovendo alterações no tempo e espaço cotidiano.
Ao concluir o passeio, Aurynha nos convida a visitar o Conde e suas praias. Intercepto essa carta para experimentar tais gestos na minha poética com o entorno. Sem roteiro ou antecipação das visualidades, parto como método o dispositivo fílmico, que consiste em jogos e brincadeiras para acionar processos criativos com as imagens.
O dispositivo é simples, como uma sugestão de filmar através de molduras e brechas a fim de tensionar as implicações do enquadramento, o que, na prática, gera combinações imprevistas: a descoberta dos desenhos criados pelos recortes das pedras junto das praias reveladas pelas fissuras que deixam a luz entrar.
Já a bicicleta é capaz de criar territórios móveis onde os exercícios podem acontecer, seja como lugar de passagem, seja como interrupção no fluxo para demorar no olhar e sentir.
No final, os vários dispositivos criam a base ajustável pela qual eu alço uma abertura ao mundo que acesso, sem reter as questões dentro de uma retórica transparente e limitada.
Nessa constelação, Cartas de Arapuca poderia ser uma mensagem engarrafada lançada ao mar, um postal enviado numa viagem turística ou uma carta de amor presa numa ilha temporal sem fim. O meu destinatário já nasceu aberto à multiplicidade de espectadores do cinema, e se você se sentir à vontade, pode responder às imagens e palavras com uma carta para [email protected], eu lerei.
*Apoio cultural Sesc/PB
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Fonte: Paraíba Online