Especial: os desafios para o avanço do ensino técnico no Brasil

A importância do ensino técnico é dos poucos consensos no debate sobre alterações que devem ocorrer na reforma do ensino médio. Os percentuais de matrículas com esse formato no Brasil estão distantes de países com sucesso educacional e de vizinhos com problemas similares aos nossos.

O avanço passa por lidar com desafios legais, exemplificados na reforma do ensino médio, pelo tamanho da rede pública e por investimentos.

A Áustria lidera em percentual de estudantes do ensino médio matriculados na modalidade, de acordo com dados da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico).

Enquanto lá o índice é de 68% , aqui é de 8%, segundo relatório da organização do ano passado com dados de 2020. Os gastos por aluno no país europeu chegam a US$ 15,3 mil (R$ 74,9 mil), superando a média da OCDE (US$ 10,1 mil ou R$ 49,4 mil). No Brasil, são US$ 3.748 (R$ 18,3 mil).

Infraestrutura é um obstáculo à expansão. Somente 43% das escolas públicas com ensino médio têm laboratório de ciências. Três em cada dez funcionam sem biblioteca.

As discussões sobre a reforma do ensino médio se inspiraram em conclusões de especialistas de que a etapa precisa se aproximar dos interesses dos jovens, bem como do mundo do trabalho. A proposta, de 2017, estabeleceu que, além de uma base comum, haveria cinco opções de itinerários de aprofundamento, um deles, o técnico profissional.

O governo Lula (PT) trabalha por alterações no modelo após críticas na implementação, iniciada em 2022. Há discussões sobre redução das opções desses itinerários, mas a manutenção do ensino técnico não tem sido questionada.

Foto: José Paulo Lacerda/CNI/Divulgação

Foto: José Paulo Lacerda/CNI/Divulgação

Essa previsão dentro da estrutura do ensino médio já é um avanço, avalia o diretor de operações do Senai (Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial), Gustavo Leal. “É difícil comparar modelos educacionais dos países, mas observamos tendências. Uma delas é permitir que alunos da educação básica, principalmente no ensino médio, tenham algum nível de integração com os cursos técnicos de educação profissional.”

O problema dessa integração recai na capacidade de as redes de ensino oferecerem a opção, sobretudo as secretarias de educação estaduais, que concentram as matrículas. O sistema de institutos federais e organizações como o Centro Paula Souza, de São Paulo não dão conta da demanda.

Segundo Claudia Costin, presidente do Instituto Singularidades, muitos países apostam nessa modalidade, o que deve ser perseguido pelo Brasil. “A conexão do ensino médio com o mundo do trabalho é muito importante, porque é elitista achar que o objetivo tem de ser entrar na faculdade para ter saberes acadêmicos e entender a sociedade.”

Costin ressalta a importância de ter professores que entendam esse fazer técnico e saibam dar aulas, em um cenário onde há déficit de docentes em áreas básicas.

Em países como Alemanha, Finlândia, Colômbia, Uruguai e na África do Sul, há uma divisão do currículo, com uma trilha acadêmica e outra técnica. Na Alemanha e na Suíça, o encaminhamento para a educação profissional ocorre já no ensino fundamental, segundo o desempenho e a avaliação dos professores.

No Brasil, uma grande parcela dos matriculados em ensino técnico de nível médio já terminou essa etapa. São 947 mil no chamado subsequente, enquanto há 750 mil no médio integrado e 287 mil no concomitante (que é realizado, por exemplo, em outra escola).

Estados Unidos e Japão têm formato similar ao do Brasil, apenas com escolas específicas. A penetração do modelo é também reduzida nesses países, mostra pesquisa da Universidade de Stanford.

O mesmo levantamento ressalta que, para além de uma maior flexibilidade curricular (com vários itinerários), a característica mais importante de sistemas bem-sucedidos é a cobertura da educação profissional e tecnológica articulada ao ensino médio.

Gustavo Leal, do Senai, reforça a importância de maior conexão com o setor produtivo, porque as tecnologias avançam com rapidez. Claudia Costin, que foi diretora de educação do Banco Mundial, afirma que uma formação técnica sólida tem potencial de preparar os jovens para lidar com essa evolução.

*Paulo Saldaña/folhapress


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Fonte: Paraíba Online

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