DANIELE MADUREIRA E NICOLA PAMPLONA
SÃO PAULO, SP, E RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) – A Americanas informou, nesta sexta-feira (3), que afastou toda a sua diretoria, 23 dias após a divulgação do fato relevante que escancarou um rombo contábil de R$ 20 bilhões no seu balanço.
Em comunicado ao mercado, a varejista informa que o conselho de administração da companhia decidiu afastar Anna Saicali (presidente da Ame Digital), Timotheo Barros (vice-presidente, responsável por lojas físicas, logística e tecnologia) e Márcio Meirelles (vice-presidente, responsável pelas áreas digital, consumo e marketing).
Eles eram remanescentes da diretoria anterior à posse de Sergio Rial, ex-presidente da varejista que anunciou as “inconsistências contábeis” que culminaram com o pedido de recuperação judicial no último dia 19.
São alvo de investigações da CVM (Comissão de Valores Mobiliários) sobre omissão de informações relevantes e possível uso de informações privilegiadas em vendas de ações que recebem em bônus, que dispararam no segundo semestre de 2022.
São também alvo de ações movidas por bancos credores da varejista, que querem acesso a seus computadores para buscar provas de fraude contábil em e-mails.
A Americanas afastou ainda os executivos Fábio da Silva Abrate, Flávia Carneiro e Marcelo da Silva Nunes –os nomes não constam do site de relações com investidores da empresa. Até a publicação deste texto, a assessoria da varejista não soube informar quem são.
O afastamento vale enquanto estiver sendo apurado o escândalo contábil. A empresa afirma, porém, que a medida não representa “qualquer antecipação de juízo.”
O conselho da companhia é formado pelos representantes dos acionistas de referência: Carlos Alberto Sicupira (fundador do 3G Capital, ele próprio um dos principais acionistas); Paulo Alberto Lemann (filho de Jorge Paulo Lemann, outro acionista de referência e também fundador do 3G); Cláudio Moniz Barreto Garcia e Eduardo Saggioro Garcia.
Participam como membros independentes do conselho Mauro Muratorio Not, Sidney Victor da Costa Breyer e Vanessa Claro Lopes.
A Americanas afirma ter tomado a decisão considerando as novas lideranças internas e externas que vão dar continuidade aos negócios: a nova diretora financeira Camille Loyo Faria (que tomou posse no último dia 1º e trabalhou na recuperação judicial da Oi), as consultorias Alvarez & Marsal (reestruturação) e Deloitte Touche Tohmatsu (assessoria contábil).
Apenas Camille Loyo Faria e João Guerra —o presidente interino da Americanas, indicado quando Rial renunciou ao comando da rede, em 11 de janeiro— permanecem na empresa.
A varejista diz que várias medidas foram implementadas para garantir a integridade da preservação de informações e documentos da companhia. Cita a contratação do IBPTECH, instituto de perícias forenses, da FTI Consulting, consultoria internacional, e da ICTS Security, consultoria especializada em segurança da informação.
‘NATURAL DA TERRA NÃO ESTÁ À VENDA’
Em comunicado divulgado também nesta tarde, a Americanas rechaça a ideia de vender a rede de hortifrútis Natural da Terra.
“Em vista de infundados rumores e especulações veiculados em canais de mídia, vem esclarecer aos seus acionistas e ao mercado em geral que não estão em curso quaisquer negociações visando a alienação, pela companhia, do Hortifruti Natural da Terra”, informou.
“A companhia informa, ainda, que estuda continuamente formas de garantir que a recuperação judicial permita ganho de valor para a Americanas e seus stakeholders e mantenha o alto nível de experiência de seus consumidores e parceiros e reitera que manterá seu esforço na busca por uma solução com os seus credores, para manter seu compromisso como geradora de milhares de empregos diretos e indiretos, amplo impacto social, fonte produtora e de estímulo atividade econômica.”