Pode ser que haja quem saiba, a maioria não, mas é de São José de Piranhas, lá no Sertão da Paraíba, a origem do personagem mais irrequieto da cena humana atual de João Pessoa, em especial da mídia tabajara de nome Kubitscheck Pinheiro com perfil típico de quem nasceu para “tocar fogo” no “faz de conta”. Ultimamente, ele é quem atrai muito internautas para conhecer seus vídeos e textos sobre a dura realidade do Centro Histórico de João Pessoa. Nesta entrevista ele conta como começou sua condição de um grande provocador cultural de qualidade. Até o timbre K ele já consolidou e não teme a IA imitando-o.
Eis a entrevista:
WSCOM – Ao longo do tempo, sua trajetória intelectual dialoga com história, personagens e os novos hábitos. Ultimamente, seu olhar tem se fixado no Centro Histórico de João Pessoa. O que lhe motivou a espiar com maior detalhe os dramas reais da área?
KUBISTCHECK PINHEIRO – Eu sempre chamei João Pessoa de Cidade Amada, assim como os cariocas e mundo todo chama o Rio de Janeiro de Cidade Maravilhosa. Tenho o título de cidadão pessoense, que me foi dado pela Câmara de João Pessoa, em 1996, numa propositura da indomável vereadora Creuza Pires. Então, desde que eu cheguei aqui em 1975, que eu namoro com João Pessoa. Naquele tempo eu encontrei a cidade praticamente inteira, morei no centro e adorava andar pelas ruas. Antes da pandemia eu já vinha anotando e fotografando o centro e seu cenário em ruinas. Depois da pandemia, ao voltar a cidade para trabalhar, como diz lá em nós – “piorou” Há 60 dias decidi utilizar meu Instagram para mostrar tudo – do belo ao trágico, a podridão e o abandono, e com isso venho ganhando mais espaço. Hoje as pessoas já me ligam ou mandam direct indicando lugares – e sei que o ProjetoK – está só começando.
WSCOM – Como observador atento, que conceito você tem sobre a realidade atual do Centro de João Pessoa, tanto do aspecto habitacional quanto econômico?
K – Olha, como os habitantes da cidade migraram para o mar e outros bairros, não vejo menor chance do centro de João Pessoa voltar a ser como antes – jamais. Do ponto de vista econômico, nem se fala, são milhares de lojas fechadas e quem ainda mora no centro – certamente, nos prédios Manuel Pires, ou o 18 Andares ( este, o primeiro construído da Paraíba para habitação) – permanecem por amor ou não têm condições de deixar o recanto para colocar o sol na moleira cá nas praias. Eu até encontrei moradores que reformaram casas e estão morando na avenida General Osório, mas não passa de cinco pessoas.
WSCOM – Mais recentemente você postou reportagem da Rede Globo focando o Centro Histórico do Recife e ainda indaga em comentário quando mesma abordagem chegará a João Pessoa. Você se mantém otimista?
K – Eu nunca fui otimista nem pessimista, sempre procurei não ficar disperso. Se João Pessoa for incluída na rota dessas reportagens da Globo, ótimo, porque se não houver interferência do poder, “filme aqui, filme acolá”, o Brasil vai ficar perplexo com o desprezo que se encontra o centro histórico de João Pessoa, que vem se arrastando de muitas gestões. Faz pena.
WSCOM – Desde cedo lhe acompanho com suas inquietudes, linguagens contemporâneas e olhares atentos às diversas cenas urbanas. Os instrumentos digitais o aguçaram mais a acompanhar fatos e personagens do cotidiano?
K – Você (Walter Santos) me deu um espaço diário para escrever uma coluna chamada Kotidiano no Jornal O Momento, sabe que eu fui atrás das cenas transformadas em textos, nos quatro cantos de João Pessoa. Hoje, o celular que é minha arma quente, tem me ajudado a mostrar por fora e por dentro os horrores do centro. Entrei duas vezes sem ninguém me ver, no antigo prédio do Ipase e não me pergunte como sai vivo. Só não vi alma.
WSCOM – Desde lá atrás, Caetano trata a vaidade humana em seus versos através do espelho, mas no tempo real contemporâneo qual a linguagem mais precisa para reconhecermos de fato sua Selfie para conhecimento de todos? Quem é o real personagem K?
K – Deixa de onda. Eu sou um rapaz que veio de longe. Ainda hoje digo que existem vários Kubitschek dentro de mim – às vezes mando um para a cidade, outro numa exposição escambau. O primeiro texto que escrevi este ano, “A vidente de Whitman” uma pessoa me mandou um zap dizendo que eu sou a vidente. E sou mesmo, eu sou quase tudo, menos mau caráter.
WSCOM – Mesmo de raiz sertaneja, sua alma e personalidade se doam siamesamente mais ao estilo urbano, tanto faz ser chique ou brega, do que à rudeza do sertão. O que esses valores servem de estímulo para lhe fazer assumir midiático até demais? A idade pesa ou não pesa?
K – Rapaz, eu desde pequeno que digo ao povo que sou um homem velho e assim tiro de letra o cansaço. Eu não gosto de gente cafona, gente cretina, os esnobes. Eu escrevi um romance na Pandemia, chamado “Pancadas no Morto” que vai permanecer inédito – nesse livro tem cada história que somente Deus ajuda. O fato de eu ter nascido no sertão, foi a melhor coisa. Lá eu vi que era um homem livre e permaneço assim e vou morrer livre. Gosto muito da vida, das andanças, do namoro, do sexo. E tenho sempre a vontade de viver mais, como atesta a canção de Chico César.
WSCOM – Como você convive e acompanha as variações de gênero e até nova cultura do trato sexual? São muitas terminologias. Como “caetanear” o que há de novo?
K – O Brasil deve muito a Caetano Veloso. As terminologias já não têm mais tanto espaço hoje em dia. Eu nunca disse, nem vou dizer “sextou” – essa palavra não existe, não está no idioma. As variações de gênero existem desde a pedra lascada, só agora é que as pessoas tiveram a chance de botar o bloco na rua. Sejam felizes todos.
WSCOM – E se um dia a IA – o chatgpt- for acionado para “criar” um personagem K. Como superar a falsificação de gente?
K – Eu nem sei, mas às vezes saio na carreira. Sei que não existirá outro Kubitschek, mas isso não vem ao caso. Eu adoro ser jornalista e saber que meu texto não é certinho. Sou sim, politicamente incorreto e sou conservador, mas não me pergunte como consigo. Se criarem um K na IA vai ter que se ver comigo.
WSCOM – Por fim, o que você acha hoje de João Pessoa, do Nordeste e do Brasil no contexto global de tantas guerras, intolerâncias e ainda muita fome pelai?
K – Eu amo as cidades, elas entram na vida da gente e as portas se abrem e se fecham. Não moraria noutro lugar que não seja João Pessoa, aqui tem tudo, de Zumbi a Zabé. Talvez fosse embora para o Rio, mas não tenho grana, nem sou o supre bacana. Lembra daquela história do Nordeste ficar independente? To dentro. O Brasil é lindo, mas muito desigual, muita malandragem, muito bandido, crianças famintas nas ruas, políticos malditos roubando nosso dinheiro – mas de quem é a culpa? Do povo que elege esses políticos ou dos políticos, que deveriam estar na cadeia. O Brasil não tem jeito.
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Fonte: WSCOM