Meia-noite.
São os primeiros instantes de um domingo, 13 de agosto de 2023, que só vai acabar na segunda-feira.
É Dia dos Pais.
Muitos ali são pais, muitos ali são filhos também.
Ainda assim, estão reunidos, num ponto de encontro qualquer, prestes a iniciar mais uma viagem rumo ao imponderável.
São torcedores de futebol. Especificamente, do Botafogo da Paraíba. O clube que ponto a ponto se aproxima mais da classificação para o mata-mata de acesso da Série C.
O jogo da vez é contra o CSA, de Maceió, na casa dos rivais, que terminaria empatado em 1 a 1. Antes, porém, uma viagem que poderia variar entre seis e oito horas, mas que no fim das contas se prolongaria por intermináveis doze horas de sacrifícios, esgotamentos e resistências, está prestes a começar.
Claro, eu estou falando aqui de uma viagem específica, ao lado da Torcida Jovem do Botafogo-PB (TJB), torcida organizada que eu pesquiso em meu doutorado em antropologia social e que acompanho há alguns anos.
Ainda assim, mais ou menos naquela mesma hora e nas seguintes, outros ônibus, outras vans, vários outros carros particulares, diferentes e plurais torcidas botafoguenses, viajariam igualmente entre João Pessoa e Maceió com um mesmo objetivo.
Viajar, chegar à capital alagoana mais ou menos perto da hora do jogo, acompanhar a partida, torcer e gritar pelo Belo, sofrer, reclamar, amar e se arrebatar, retornar à capital paraibana tão logo a partida acabe. Fazer todo o caminho de volta a tempo de ir trabalhar nas primeiras horas da manhã de segunda-feira (14).
Olhe que essa nem de perto é a maior das viagens já realizadas por botafoguenses em busca de assistir a um único jogo. De toda forma, mesmo focando nessa de Maceió, não parece fazer muito sentido tamanho esforço, tamanha entrega, principalmente se os olhares partirem de quem eventualmente não gosta tanto de futebol, não nutre relações tão inintendíveis com um clube e com todas as paixões que o cercam.
Mas, enfim, o torcer não foi idealizado para ser radiografado em sua totalidade.
Ninguém viaja em caravana implorando pelo entendimento coletivo, pela aceitação ou pela concordância dos demais.
Faz isso porque, afinal, é o que precisa ser feito.
Porque é o fluxo contínuo de seguir sempre os passos do seu clube do coração que o mantém vivo.
Entenda bem.
Não é simplesmente uma questão de seguir os jogadores de um time a cada partida.
É muito mais do que isso, claro.
É seguir a própria história, trilhar o próprio destino, definir a própria existência, firmar compromissos com o passado e com o futuro, com a sua própria consciência.
Na verdade, é justo essa incompletude do torcer que o torna tão indecifravelmente bonito.
Ele não foi feito para ser entendido. Foi feito para ser sentido.
A cada dia, a cada semana, a cada jogo.
Para sempre.
O torcer dá sentido à vida, a vida dá sentido ao torcer.
É uma experiência retroalimentável que vai durar para sempre.
Ainda bem!
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Fonte: Jornal da Paraíba