
Cinebiografias de astros e estrelas da música popular. A primeira que vi, muitas décadas atrás, foi Música e Lágrimas, que Anthony Mann realizou em 1954.
James Stewart faz muito bem o papel de Glenn Miller. O filme conta a história do fim trágico do maestro que legou ao mundo In The Mood e Moonlight Serenade.
Nas últimas duas décadas, vimos muitas cinebiografias. Entre as brasileiras, gosto muito do Cazuza de Daniel de Oliveira em O Tempo Não Para, da Elis Regina de Andreia Horta em Elis e da Gal Costa de Sophie Charlotte em Meu Nome é Gal.
Em 2004, Jamie Foxx esteve perfeito como Ray Charles em Ray. Em 2018, Rami Malek fez um muito convincente Freddie Mercury em Bohemian Rhapsody. E, em 2022, Austin Butler simplesmente arrasou como Elvis Presley em Elvis.
Jamie Foxx e Rami Malek conquistaram o Oscar de Melhor Ator. Austin Butler, igualmente merecedor, foi atropelado pelo Brendan Fraser de A Baleia.
Agora em 2025, a cinebiografia da vez é Um Completo Desconhecido. O filme de James Mangold acompanha o jovem Bob Dylan entre 1961 e 1965.
Gosto de imaginar diálogos entre filmes. Não Estou Lá dialoga bem com Um Completo Desconhecido, dois retratos completamente díspares da figura de Dylan.
Um Completo Desconhecido é um recorte linear e narrado em ordem cronológica. Não Estou Lá, que Todd Haynes realizou em 2007, é um absoluto delírio.
Não Estou Lá se debruça sobre Dylan de um modo que só os grandes degustadores do seu cancioneiro e conhecedores da sua história vão entender e gostar.
Vários atores fazem o papel de Bob Dylan, inclusive Richard Gere, Christian Bale e Heath Ledger. Mas o melhor Dylan do filme é uma mulher: Cate Blanchet.
Outro diálogo interessante entre filmes sobre Bob Dylan pode ser construído entre Um Completo Desconhecido e No Direction Home, de Martin Scorsese.
O extenso filme que Scorsese realizou em 2005 é um documentário, mas há uma semelhança notável entre No Direction Home e Um Completo Desconhecido.
O recorte é praticamente o mesmo. Se Um Completo Desconhecido segue Dylan entre 1961 e 1965, No Direction Home avança apenas um ano e vai até 1966.
No Direction Home, Não Estou Lá, Um Completo Desconhecido. O fato é que, se a gente desejar, eles se completam para o deleite de quem ama Bob Dylan.
Destaco duas cenas em Um Completo Desconhecido. Nas duas, vemos Timothée Chalamet e Monica Barbaro, ambos sublimes, como Bob Dylan e Joan Baez.
Na primeira cena, após chamar Dylan de mentiroso e babaca, Baez ouve pela primeira vez Blowin’ in the Wind. Sentado na cama, ao violão, ele mostra a canção a ela.
Ela ouve, vai aprendendo na hora e, ao final, os dois estão cantando juntos essa música que se tornaria uim clássico do cancioneiro americano. Ela, embevecida diante da beleza da canção, pergunta o que é aquilo, ao que ele responde com um “eu não sei”.
Na outra cena, perto do final, Dylan e Baez cantam juntos no Festival de Newport de 1965. Dois violões, duas vozes. A canção, escolhida por ela, é It Ain’t Me Babe.
“Se você quer alguém que nunca prometa partir, esse não sou eu”, diz mais ou menos assim a letra da canção gravada em 1964 no álbum Another Side of Bob Dylan.
It Ain’t Me Babe fala de um amor ao qual o eu lírico não poderá corresponder. Pode ser o amor entre Bob Dylan e Joan Baez. Pode ser o amor entre Bob Dylan e Suze Rotolo, que, no filme, por sugestão de Dylan, teve o nome mudado para Sylvie.
A cena é deslumbrante. Joan Baez e Bob Dylan estão estremecidos, mas fazem It Ain’t Me Babe lindamente. Sylvie assiste da coxia e não suporta ver os dois juntos.
Um Completo Desconhecido é uma bela e irresistível cinebiografia de um gigante da canção popular. Toca fundo no coração de quem dedicou anos e anos à audição dos discos de Bob Dylan. Melhor ainda se for atraente para jovens espectadores.
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Fonte: Jornal da Paraíba