Esqueça todos os dramas. Todos os medos. Todas as dores.
Calma! Não para sempre. Mas ao menos até o próximo jogo está liberado. Desapegue de tudo o que você já sofreu nos últimos tempos e seja feliz.
Enfim, contemple um pouco o entorno, o horizonte, sinta os afetos que lhe cercam, emanados por companheiros de arquibancada igualmente extasiados e ensandecidos.
Grite, chore, brinde, sonhe, bata no peito e sinta a chuva encharcar a camisa. Deixe de lado as amarras que o medo às vezes impõe.
Já deu para notar, acho, que o diálogo é essencialmente com o torcedor do Botafogo da Paraíba, no dia após a fantástica vitória em cima do Paysandu, por 3 a 2, após estar duas vezes atrás do marcador e após conquistar a virada no derradeiro instante de um jogo que já se supunha encerrado.
A propósito, a Série C 2023, ao menos por ora e em meio aos óbvios percalços de uma competição como essa, está servindo para espantar alguns dos mais doloridos dramas do torcedor botafoguense.
Tanto que, do medo quase patológico – e ao mesmo tempo racional – de sofrer gols nos acréscimos, a torcida já se dá ao luxo de comemorar uma vitória inimaginável quando os refletores já eram preparados para serem desligados.
Uma noite inesquecível, enfim. Uma noite para se guardar, para ser lembrada de tempos em tempos por quem a viveu.
No fim das contas, são mesmo os Caramelos do Cristo (ou do Belo), os vira-latas, aqueles que nunca são muito valorizados, que ninguém dá muita importância, mas que ainda assim sobrevivem às muitas intempéries da existência.
Bem, a sacada inteligente e perpiscaz de chamar clube e torcida botafoguenses de caramelos foi do torcedor George Junior, que responde pelo perfil Belo Mil Grau.
O cara pegou os dramas e os anseios da própria torcida e ressignificou-os. Transformou-os em resistência e em luta. Em sonho. Em persistência e em cântico da torcida em busca daquilo o que sempre parece impossível.
O lema é autoexplicativo: “É mais para eles, mas a gente vai”.
Pois é a autodeclaração de que é permitido sofrer, sentir dor, chorar, sufocar. É a percepção corajosa e bonita de que o futebol é construído mais de tragédias do que de arrebatamentos. É a confissão das próprias limitações.
Ao mesmo tempo, é o testemunho definitivo de que nada mais importa. Que nada é capaz de tirar o torcedor da arquibancada para mais um dia, mais um jogo, mais um ritual – solitário e coletivo ao mesmo tempo – de ir ao Estádio Almeidão ver o Belo jogar e, quem sabe, sair feliz de vez em quando dali.
Porque, afinal… não é todo dia, visto ser mais para eles. Mas, vai saber, um dia tudo pode mudar. Um dia há de se vencer, já que a regra é sempre ir, tentar, lutar, buscar.
Pois ontem o Belo venceu.
Ontem, os caramelos é que latiram mais alto.
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Fonte: Jornal da Paraíba