Banco reduz crédito para pessoas físicas e pequenas empresas

RENATO CARVALHO
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Os empréstimos concedidos a pessoas físicas, especialmente de baixa renda, e a micro e pequenas empresas parece ser uma preocupação maior para o Bradesco que o caso Americanas. É o que mostram os números e as declarações dadas pelo presidente do banco, Octavio de Lazari Júnior.

Os resultados do quarto trimestre de 2022 foram bastante impactados pela provisão de R$ 4,8 bilhões feita pelo Bradesco para se proteger das dívidas da Americanas, que resultou no menor lucro líquido trimestral desde o período entre julho e setembro de 2006, segundo levantamento do TradeMap.

No entanto, em teleconferência com a imprensa realizada nesta sexta-feira (10), Lazari mostrou que, já no final do ano passado, as concessões de empréstimos para pessoas físicas e empresas de menor porte caíram 16% e 18% em relação ao quarto trimestre de 2022, respectivamente. Para companhias de médio e grande porte, a concessão aumentou 22%, na mesma base de comparação.

“O banco concedeu mais crédito do que deveria durante a pandemia, e foi uma lição aprendida por nós. Temos que estar sempre um ponto antes da curva, e por isso vamos continuar, em 2023, sendo mais restritivos no crédito para pessoas físicas, especialmente de baixa renda, e para micro e pequenas empresas”, revela Lazari.

Os empréstimos com atraso superior a 90 dias do Bradesco subiram 1,5 ponto percentual em 2022, passando de 2,8% da carteira total ao final de 2021 para 4,3%.

Entre as empresas de menor porte, o aumento foi de 2,2 pontos, para 5,3% da carteira. A inadimplência de pessoas físicas chegou a 5,5%.

Assim, mesmo quando se exclui o efeito da provisão feita para o caso Americanas, houve um crescimento de 23% em um ano no volume destinado à proteção do capital contra inadimplência acima de 90 dias, dado conhecido pela sigla PDD.

A maior seletividade na concessão deve diminuir o ritmo de crescimento da carteira de crédito do Bradesco em 2023, já que o banco projeta um intervalo entre 6,5% e 9,5% para este item, ante avanço de 9,8% em 2022. O número veio abaixo do previsto inicialmente, que era crescer entre 10% e 14%.

Mesmo com a desaceleração, a projeção para as provisões contra inadimplência é de crescimento, podendo chegar próximo de R$ 40 bilhões em 2023, ante R$ 32,3 bilhões de 2022, já incluído o volume destinado para Americanas.

“Acreditamos que o valor projetado para as provisões está adequado, porque teremos os efeitos dos créditos renegociados, e também das novas operações, já que não vamos parar de conceder empréstimos”, explica Lazari.

O presidente do Bradesco afirma que a provisão para grandes empresas estava em níveis baixos, mas tende a se normalizar entre 2023 e 2024. “Mesmo assim, estamos bem provisionados, temos R$ 58 bilhões para este fim.”

Foto: ABr

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Sobre as operações de crédito para grandes empresas, especialmente na linha de risco sacado, em que o banco financia a compra de itens junto a fornecedores, Lazari nega que o banco pretende aumentar os juros por causa da Americanas.

“É uma linha oferecida há muito tempo, que praticamente não tem inadimplência. Esse caso serve para termos ainda mais cuidado nas análises, nos processos de avaliação de risco. Mas não vai resultar em aumento de taxas para os clientes. Foi um caso isolado.”

Fechamento de agências e receitas pressionadas Lazari anunciou que o banco vai fechar ou reestruturar entre 200 e 250 agências do Bradesco durante o ano de 2023.

“Muitas delas vão deixar de ser agências tradicionais e passarem a atuar como unidades de negócio, o que resulta em custos menores na operação”, explica. Nesse novo modelo, os postos continuam atendendo clientes, mas de forma diferente, mais focados em produtos.

As receitas com prestação de serviços também devem desacelerar em 2023. O Bradesco projeta crescimento entre 2% e 6%, ante avanço de 4,7% em 2022.

“Essa previsão tem a ver com o aumento da concorrência, com mais agentes oferecendo abertura de contas. Além disso, esse item será impactado também pelo menor crescimento do crédito”, diz o executivo.

Resultados fracos, mas 2023 pode ser melhor É praticamente consenso entre os analistas de que os resultados apresentados pelo Bradesco foram fracos, mas há pontos positivos, especialmente quando se projeta 2023.

Flavio Conde, analista da Levante Investimentos, afirma que a inadimplência está afetando o resultado do Bradesco com maior rapidez na comparação com o Itaú Unibanco, por exemplo, mesmo sem a participação de Americanas.

“O ponto positivo é que, com tudo provisionado para Americanas, esse efeito não vai mais pesar nos números de 2023”, afirma Conde.

Milton Rabelo, analista da VG Research, ressalta que que se não fossem as provisões referentes a Americanas, o lucro da instituição seria de aproximadamente R$ 6,4 bilhões no quarto trimestre, com rentabilidade de 10,3%.

“Acreditamos que os esforços do Bradesco no aperfeiçoamento da análise da concessão de crédito renderão resultados mais positivos a partir de meados de 2023”, afirma Rabelo.

Perto das 11h45 (horário de Brasília), as ações preferenciais do Bradesco caíam mais de 7%, enquanto as ordinárias tinham queda de 6%.


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Fonte: Paraíba Online

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