Chegou a época em que as famílias se encontram para festejar o ano que está se encerrando e, como todo bom encontro pede, uma variedade de comidas acompanha os festejos. Em tempos de Natal e Réveillon, pratos tradicionais como peru e porco sempre estão nas mesas dos paraibanos, mas poucos sabem quais são as explicações históricas para a preferência por esses pratos nas respectivas ceias.
O Jornal da Paraíba conversou com uma historiadora, especialista no desenvolvimento alimentício das sociedades, que explicou os motivos pelos quais as pessoas fazem esta separação, de colocar aves como prato principal na ceia de Natal e porco na de Réveillon.
Aves no Natal e porco no Ano Novo
De acordo com a professora de história Naiara Ferraz, que trabalha com foco na alimentação das sociedades durante os anos, para explicar essa preferência, é necessário entender primeiramente que os alimentos que são consumidos pelos seres humanos não são somente para suprir as necessidades de cada pessoa, mas também fazem parte de um conjunto de ideias que estão ligadas às suas crenças.
“A alimentação nas sociedades humanas supera em muito as perspectivas da nutrição e da possibilidade de saciedade da fome. A relação entre os humanos e a comida perpassa por questões culturais em muitos casos vinculados às perspectivas religiosas. Ou seja, as culturas e suas práticas religiosas encontram na alimentação espaço de contemplação e em alguns casos o encontro com o sobrenatural, assim, costumes alimentares de determinadas datas comemorativas”, destaca Naiara.
Para a especialista, esse fenômeno de influência religiosa e mística sobre as perspectivas de alimentação das pessoas também chega em datas comemorativas como o Natal, e também o ano novo.
O Natal, uma festa cristã que chega ao Brasil e a Paraíba por meio dos portugueses, e como tal ressalta a relevância e a importância de se celebrar o nascimento do menino Jesus, ‘O filho de Deus’, e por isso um rei que precisa ser homenageado e para isso, as aves (comum na corte portuguesa) são uma boa escolha como elemento central da mesa na ceia de natal
A professora de História também contou que a escolha pelo prato da ceia do Réveillon passa por questão que, inclusive, ultrapassam a esfera religiosa que tanto influencia na escolha dos alimentos no período de Natal e que, por “crença popular”, o porco é mais escolhido na última ceia do ano.
Já na passagem do ano, um momento de transição e de mudanças, ressalta a necessidade de se olhar para frente e por este motivo a cultura popular afasta a ideia de se consumir um animal que cisque para trás, retirando as aves de algumas mesas. Outras proteínas são selecionadas, carnes, peixes e o porco
Fatores econômicos
Além dos fatores relacionados à religiosidade e também às crenças populares das sociedades, há mais aspectos que influenciam na escolha pelas aves nas refeições de Natal e o porco ou carnes do mesmo tipo na virada do ano. Entre esses fatores estão a parte financeira e também a própria parte gastronômica do negócio.
“A economia e a gastronomia interferem nas escolhas do mercado. Como podemos observar nas mesas paraibanas, existe um aumento na presença da carne suína, que é saborosa e também mais barata, em contrapartida ao retrospecto histórico que essa carne teve, por longos períodos de anos foi rejeitada nas devido à presença de cristãos-novos (judeus forçadamente convertidos pela inquisição portuguesa e condenados a morar na colônia brasileira entre os séculos XV-XVII) no processo de sua colonização”, frisou.
Por último, a professora Naiara Ferraz explicou também que essa mudança descrita acima e a maior preferência paraibana pela carne de porco na ceia de Réveillon passa por a influência e a chegada de novas culturas na Paraíba e também o fator da mídia, que sempre destaca possibilidades para o consumo desse tipo de alimento.
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Fonte: Jornal da Paraíba