Além dos livros: Qual o futuro das livrarias com o domínio da Amazon?

A falência da rede de livrarias Saraiva acendeu um novo alerta para o setor de livros do país. A derrocada da empresa se soma à de outra grande rede, a Livraria Cultura, que teve falência decretada, mas conseguiu reverter a situação na Justiça de São Paulo.

Dados apontam queda no faturamento do setor e o aumento das vendas em lojas exclusivamente digitais, tornando mais desafiador o futuro das livrarias no país.

O QUE ESTÁ ACONTECENDO?

O faturamento das livrarias no Brasil caiu 9% em 2022. Foi R$ 1,082 bilhão no ano passado, contra R$ 1,183 bilhão em 2021, segundo dados da Nielsen BookData, os mais recentes do setor.

O faturamento total do mercado livreiro teve queda de 6%, e o número de livros vendidos caiu 23%. Foram R$ 5,5 milhões em 2022 contra R$ 5,8 milhões em 2021, mantendo estável a taxa de novas impressões e reimpressões. O valor inclui vendas de livros físicos, incluindo didáticos, e os digitais.

O setor livreiro vendeu 324 milhões de livros, o que representa uma queda de 23% em relação a 2021, quando foram vendidos 409 milhões de exemplares.

As vendas em livrarias e sites próprios somam 26,6% do total, abaixo daquelas feitas em canais exclusivamente digitais (35,2%). A pesquisa Nielsen não detalha os números por empresa —mas é neste segundo segmento que estão grandes varejistas online, como Amazon e Submarino.

Apesar do sumiço das grandes redes, o número de livrarias físicas no Brasil segue relativamente estável. Hoje, o Brasil possui cerca de 2.972 livrarias no total. Há dez anos, esse número era de 3.026 livrarias, de acordo com o Anuário 2023, feito pela ANL (Associação Nacional de Livrarias)

“O cenário é ruim. Nosso maior problema, nos últimos dez anos, é a redução dos metros lineares de prateleiras e vitrines para exposição dos livros. As livrarias com grandes metragens estão fechando, e as livrarias que ficam estão ampliando a diversidade de produtos, ou seja, estão incluindo mais produtos para a venda, que não são livros. Essa estratégia é para ter margens maiores de lucro e itens com maior preço-médio que permitam sustentar o custo operacional de uma loja, especialmente as de shoppings”, afirma Gerson Ramos, diretor comercial da editora Planeta Brasil, ex-diretor da CBL e do Conselho da Fundação Observatório do Livro.

Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

QUAL O PESO DO AVANÇO DA AMAZON?

Especialistas acreditam que a Amazon abocanhou boa parte das vendas em canais exclusivamente digitais. O faturamento anual da gigante do varejo digital com livros é estimado em R$ 1,4 bilhão. Isso é maior do que todas as livrarias brasileiras juntas, que faturaram R$ 1,08 bilhão. A Amazon não divulga dados.

Para especialistas, a Amazon não pode ser culpada pela crise das livrarias. Segundo eles, o problema das megalivrarias foi de gestão, que apesar de terem boas vendas não souberam administrar o negócio de forma eficiente e se adaptar às transformações tecnológicas.

Política de preços da Amazon, porém, é alvo de questionamentos. Ao passar a representar mais de 50% das vendas de muitas editoras, a Amazon passou a usar o seu poder de barganha para obter preços cada vez menores. Outra tática da empresa é a de atrair, através dos preços baixo, novos cadastros de clientes potenciais, que depois vão adquirir outros produtos da plataforma.

A Amazon diz que os livros estão no DNA da Amazon desde o início da empresa. Em nota, afirmou que não discute sua estratégia de preços e que foca “a atenção em proporcionar sempre a melhor experiência de compra aos clientes”.

“A política de preços da Amazon só é possível porque ela não depende de livros para sobreviver. O lucro da Amazon -que é um conglomerado gigantesco, com muitos braços, inclusive tecnológico (AWS) e aeroespacial (Blue Origin)- certamente vem de outro lugar. Daí a perversidade da situação. Livro não é uma mercadoria qualquer. Editoras e livrarias sabem disso. Mas a Amazon não está absolutamente se importando com isso: quer apenas vender. Essa postura não é sustentável no longo prazo para o mercado editorial”, diz Tadeu Breda, sócio-fundador e editor da Elefante.

TENDÊNCIAS

Grandes livrarias estão fechando lojas, mas pequenas e médias estão abrindo outras. A estratégia adotada pelos empresários do setor tem sido focar em públicos locais ou de nicho. A mineira Leitura, maior rede de livrarias no Brasil atualmente, espera fechar o ano com 104 livrarias. Uma das estratégias da rede é fechar as lojas que não dão bons resultados.

Especialistas são unânimes em apostar na consolidação de livrarias de nicho. O diferencial desses locais, além da curadoria e dos serviços extras, é o atendimento.

Há livrarias só de autoras mulheres, outras com cafés estrelados, bar e sebo. É o caso da Gato sem Rabo, que só vende livros escritos por mulheres, da Megafauna, que reúne um café da chef Bel Coelho — ambas em São Paulo. A Janela, no Rio de Janeiro, possui em seu espaço café, bar, sebo e espaço infantil.

Conteúdo digital representa só 6% do mercado editorial do país, mas tem registrado forte crescimento. E-books e audiobooks tiveram aumento de 28% no faturamento em 2022. Isso representa R$ 244 milhões.

Plataformas digitais faturaram R$ 27 milhões com esse tipo de conteúdo, segundo a pesquisa Nielsen. Isso foi impulsionado pela inserção do subsetor de didáticos através da categoria Plataformas Educacionais e pelo aumento de 69% de Bibliotecas Virtuais —bibliotecas públicas online, como a Biblion, do Governo de São Paulo, ou por assinatura, como a Squeelo, que empresta livros eletrônicos (ebooks) e audiobooks.

“Acredito que livrarias pequenas, com atendimento humanizado e qualificado, com curadoria refinada que dialogue com o interesse do cliente, sempre terão espaço. As megastores como a Saraiva e a Cultura abalaram temporariamente esse modelo, mas o tempo mostrou que a saída está no pequeno, e que os monopólios e oligopólios servem apenas aos próprios interesses”, afirma Tadeu.

“Há uma grande mudança no comportamento do consumidor. Depois da pandemia, sair de casa exige que a experiência seja muito mais atraente do que apenas a compra pela compra. Todos nós nos tornamos muito mais seletivos, por isso o desafio das livrarias físicas em especial é transformar o espaço de vendas em um espaço de acolhimento, de qualidade profissional nas vendas e de acolhimento e afeto”, diz Gerson.

*BÁRBARA MUNIZ VIEIRA/ UOL/FOLHAPRESS)


Clique aqui para ler a notícia em seu site original
Fonte: Paraíba Online

Total
0
Shares
Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Anterior
PM prende dois homens suspeitos de tentativa de feminicídio no Sertão do Estado

PM prende dois homens suspeitos de tentativa de feminicídio no Sertão do Estado

A Polícia Militar prendeu dois homens suspeiutos de  tentativa de feminicídio no

Próximo
Detentos do regime semiaberto são presos por descumprirem medidas judiciais, em João Pessoa

Detentos do regime semiaberto são presos por descumprirem medidas judiciais, em João Pessoa

A  Polícia Militar prendeu sois homens procurados pela Justiça

Você também pode se interessar
Fonte-+=