Conheça o brasileiro que estudou engenharia, derrotou Poatan e está em alta no UFC

Cesar Almeida está com 36 anos e não é um desconhecido no mundo das lutas. Já fez 3 duelos contra o principal lutador do Brasil no momento, Alex Poatan. Mas Cesinha fez grande parte da carreira no kickboxing e só agora está sendo conhecido pelo grande público, pois migrou para o MMA, chegou ao UFC e está em alta – recentemente até renovou o contrato com a organização e vai lutar neste sábado, no UFC Vegas 101, contra Abdul Razak Alhassan.

Morte do pai e curso de engenharia

A luta começou muito cedo para Cesinha. Mas não foi no ringue. Ele perdeu o pai quando tinha apenas 10 anos e se distanciou da mãe: “Minha mãe se viu em uma situação difícil e teve que me deixar com meus avós por um tempo. Por qualidade de vida e estrutura. Não era aquelas coisas, mas ela foi morar em uma periferia muito pior. Então foram longos anos até a gente voltar a morar junto. Hoje vejo que foi a melhor escolha que ela fez. Se ela não tivesse feito isso, talvez eu nem estaria aqui”.

Cesinha diz que momentos difíceis fazem pessoas fortes e duras. E precisou ter força suficiente para escapar de “perigos e coisas ruins” da periferia. Primeiro apostou nos estudos: era interessado em matemática e fez curso técnico de engenharia. Até que viu uma luta de Mike Tyson, se interessou por lutas e começou a entrar nesse mundo.

“Em algum sábado teve uma luta do Mike Tyson. Eu fiquei até tarde para assistir e acabou rapidão. E eu já tinha a maior vontade de treinar boxe, mastinha feito capoeira e arrumei briga na escola. Minha mãe me tirou, disse que eu ia ficar agressivo, mas nada a ver. Era o que me acalmava. E aí, outro dia, estava na rua jogando bola, comentei com um amigo próximo sobre o Mike Tyson. Falei que tinha maior vontade de treinar. E ele falou que já treinava e me convidou para ir também. Depois que fui, nunca mais saí”.

Carreira no kickboxing e lutas contra Poatan

E assim, quase por acaso, o Brasil perdeu um engenheiro e ganhou um lutador. Mas construir a carreira no kickboxing foi outro grande desafio para Cesinha: “É bem difícil, porque você tem que pagar a inscrição e bancar viagem quando você é amador, porque é difícil arrumar um patrocínio. E até quando você é profissional, você luta pouco no ano. Não é como no UFC, que estou indo para minha quarta luta em 10 meses. Se você não se lesionar, você trabalha e faz dinheiro. No Brasil, no kickboxing profissional, você faz umas duas lutas por ano. O que você ganha você gasta com suplementação, alimentação, transporte e no camping”.

Cesinha virou pai aos 25 anos e deu aulas de luta, como segundo emprego, para sustentar a família. Só parou de fazer isso quando entrou no UFC.

Não é tão fácil quanto a galera pensa. Foram 14 anos lutando para poder chegar onde estou aqui e começar a colher um pouco dos frutos

A trajetória de Cesinha lembra a de Alex Poatan, que saiu do kickboxing e tem feito uma grande carreira no UFC. Poatan enfrentou Cesinha três vezes antes de migrar para o MMA. As duas primeiras lutas de kickboxing entre eles aconteceram em 2013. Poatan venceu no Superkombat, mas perdeu na final do WGP. O terceiro combate, novamente no WGP, teve vitória de Poatan.

Cesinha destaca que foram três lutas equilibradas, decididas apenas nos pontos. E explica que, para vencer Poatan, é preciso ser resistente: “Eu tomava as mãos dele e não recuava. Fui pressionando e pressionando. Ele cansou um pouco no final e, daí, foi por pontos. Foram três lutas bem questionadas, bem difíceis para o juiz analisar”.

Migração para o UFC

Cesinha fez uma migração gradual para o UFC. Venceu uma luta na modalidade em 2016, mas só saiu do kickboxing de verdade a partir de 2021. Queria lutar com mais frequência e, até por conta da pandemia, o MMA era mais atrativo.

Cesinha disse que a maior dificuldade foi planejar os treinos de novas modalidades durante a semana. Mas se deu bem. Venceu mais duas lutas e, em 2023, recebeu a chance de participar do reality show Dana White’s Contender Series. Nesse programa o UFC oferece um contrato a quem se destaca. E não basta vencer. É preciso impressionar.

Mas surgiu outro desafio: o UFC apontou Lucas Fernando, amigo de Cesinha, como adversário. Eles já tinham treinado juntos e se conheciam. No MMA os atletas não costumam aceitar lutas contra amigos. Mas dessa vez não havia escolha. Era aceitar isso ou perder uma oportunidade única.

“A arte marcial prega muito respeito e lealdade. Isso é um tabu para gente, mas tem que entender que era um trabalho. Os dois estavam brigando pelo sonho. Foi bem difícil, porque do outro lado, no córner, estava uma pessoa que eu amo, o Pedro Rizzo, que foi meu mentor. O Lucas era meu parceiro de treino e me ajudava bastante. Mas a vida levou para esse caminho”, conta.

Foi difícil, mas não deu tudo certo. Cesinha derrotou Lucas. Depois os amigos voltaram a se falar normalmente. Dana White ficou impressionado com a atuação do vencedor e lhe ofereceu um contrato de 4 lutas.

Carreira no UFC, treinos com Poatan e futuro

Cesinha estreou de fato no UFC com vitória contra Dylan Budka, por nocaute. Depois enfrentou Roman Kopylov, perdeu por decisão dividida dos juízes e teve uma lição: “O maior aprendizado foi não chegar esperando que o cara vai lutar só em pé, porque é MMA. Então você tem que buscar o melhor caminho para vitória. O cara pode atuar em todas áreas”.

Na luta seguinte, Cesinha derrotou Ihor Potieria. E teve uma ajuda curiosa: Poatan, antigo adversário do kickboxing, treinou com ele na reta final.

“Eu lutei no mesmo card que ele. E ele precisava de um cara que fosse um biotipo parecido com o que ele ia enfrentar. A gente troca ideia no WhatsApp. Ele me chamou. Eu fui participar do camp em Salt Lake. Foi maneiro e, graças a Deus, os dois saíram com a vitória”, lembra Cesinha, que viu Poatan derrotar Khalil Rountree Jr. naquele evento.

Apenas 3 meses depois disso, Cesinha vai subir no octógono novamente. Ele diz que esse tempo de intervalo não foi um problema e está na “melhor forma”. E ainda ganhou um incentivo importante: um novo contrato de 4 lutas com o UFC. Ele explica como isso ajuda: “Você luta mais despreocupado. A gente pode se arriscar um pouco mais, porque já tem essa luta e mais 3”.

Em caso de vitória, Cesinha acredita que já poderá enfrentar algum lutador do top 15 dos pesos médios. Ele diz que é a primeira ou segunda categoria mais complicada do UFC. E promete emoção: “É um momento de arriscar um pouco, porque só assim para a gente conseguir subir na divisão. É buscando lutas emocionantes. Então é isso que eu vou procurar daqui pra frente”.

Com o histórico de lutas duras e grandes vitórias, fora e dentro do octógono, não dá pra duvidar de Cesinha.

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Fonte: Paraiba.com.br

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