Na infância, os temas natalinos parecem alegres. “Bate o sino pequenino, sino de Belém/Já nasceu o Deus menino/Para o nosso bem”. Como o próprio Natal. A gente nem presta muita atenção nas letras.
Boas Festas, de Assis Valente, foi composta por um homem solitário que anos depois se matou. Além de desconstruir o mito do Papai Noel, a letra fala da infelicidade do autor: “Já faz tempo que eu pedi/Mas o meu Papai Noel não vem/Com certeza já morreu/Ou então felicidade é brinquedo que não tem”.
A despeito do seu conteúdo, incorporou-se ao repertório natalino dos brasileiros e é ouvida, ano após ano, cantada ou executada por harpas paraguaias.
O baiano Assis Valente, que compôs também os sambas Brasil Pandeiro e Minha Embaixada Chegou, jamais imaginou que sua música seria um grande hit.
Outro grande sucesso do repertório natalino brasileiro é Natal das Crianças. Foi popularizado por Blecaute, um cantor de sambas do Rio de Janeiro.
Quando se fala em música de Natal, a primeira que nos ocorre é Noite Feliz, ou Silent Night, de Franz Gruber. É difícil gravar um disco natalino e deixá-la de fora.
Franz Xaver Gruber, o autor de Noite Feliz, era um músico austríaco que nasceu no século XVIII e morreu no século XIX. Era professor e tocava órgão na igreja.
Noite Feliz foi invocada até pela rebeldia da década de 1960 numa versão curiosa, e algo irônica, de Simon & Garfunkel. O canto da dupla, que conquistou o mundo com The Sound of Silence, se mistura a vozes que leem notícias da guerra do Vietnã.
Noite Feliz é tão popular quanto Jingle Bells, O’Tannebaum e Adeste Fidelis. Não é preciso saber o título, nem o autor. Elas estão na memória afetiva de milhões de pessoas. E quem as conhece, imediatamente as identifica como músicas de Natal.
Gravar discos natalinos é uma tradição da indústria fonográfica nos Estados Unidos. Bing Crosby, Frank Sinatra, Nat King Cole, Ray Charles, Ella Fitzgerald, Louis Armstrong, Elvis Presley, Stevie Wonder – todos gravaram.
Até Bob Dylan, que é judeu, gravou. Se ouvirmos sem preconceito, veremos que alguns são muito bons. Stevie Wonder cantando Ave Maria é sublime.
No Brasil, há o disco de Simone (25 de Dezembro), lançado no final do século passado. Não é ruim quanto querem seus críticos. Talvez tenha sido executado à exaustão.
Nos Estados Unidos do século XX, surgiu uma maravilhosa melodia natalina, hoje totalmente incorporada à lista de clássicos do gênero: White Christmas, ou Natal Branco, do judeu russo Irving Berlin.
O autor, que viveu mais de 100 anos e era um verdadeiro símbolo da América, escreveu algumas das melhores canções populares de todos os tempos.
A era do rock também nos legou uma música natalina. Happy Xmas foi composta por John Lennon para o Natal de 1971. Hino pacifista, John o escreveu como parte de uma campanha que promoveu ao lado de Yoko Ono contra a guerra do Vietnã.
Seu subtítulo é War Is Over, a frase que o casal Lennon espalhou em outdoors pelas grandes cidades do mundo. Na gravação original, crianças do Harlem fazem o coro.
Num DVD de 2003, a música vem acompanhada por imagens de crianças atingidas pelas guerras. Impossível não se comover. O que muita gente não sabe é que Lennon foi buscar a melodia de Happy Xmas na velha canção Stewball.
O Brasil tem um caso interessantíssimo de associação entre a música popular e o Natal. É o de Roberto Carlos. A partir da segunda metade dos anos 1960, e por três décadas, o artista lançou discos que se incorporaram aos nossos natais.
Alguns desses álbuns tinham músicas de inspiração religiosa, mas só uma era natalina: Meu Menino Jesus, de 1998, que não fez sucesso.
As músicas natalinas são bonitas, mas, quando a gente não é mais jovem, elas ficam tristes. Remetem às perdas que acumulamos. Como o próprio Natal.
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Fonte: Jornal da Paraíba