Antônio Carlos Jobim morreu aos 67 anos no dia oito de dezembro de 1994. Domingo que vem, oito de dezembro de 2024, faz 30 anos. Segue, em duas partes, um texto que escrevi no ano 2000 e está no meu livro Meio Bossa Nova, Meio Rock’n’ Roll.
Antônio Carlos Jobim, o maior compositor popular do Brasil e um dos maiores do mundo. Vejo o mestre da canção no palco do Teatro Guararapes e fico pensando em tudo o que ele fez. É julho de 1991, quase 20 anos depois do dia em que um amigo deixou comigo dois discos de Tom: o primeiro, The Composer of Desafinado Plays, e Stone Flower, que, na época, era um dos mais recentes.
A década de 1970 estava começando, eu era um adolescente, e a sua música chegava à minha vida para ficar. Contemplo Tom Jobim no palco do Teatro Guararapes e penso no bem que ele fez ao Brasil com canções que atravessam o tempo como se acabassem de ter sido compostas.
Caetano Veloso me disse que Tom Jobim, do jeito que o conhecemos, só foi possível por causa de João Gilberto, com a solução rítmico-harmônica que este deu para o samba no violão e no canto. Mas Caetano também reconhece que Jobim é a realização máxima da potência musical brasileira, uma espécie de sol da nossa música.
Observo Tom Jobim no palco do Teatro Guararapes, estou diante de um homem raro e fico a pensar na influência enorme que exerceu sobre a geração que despontou nos festivais de música popular da segunda metade da década de 1960.
Chico Buarque, Edu Lobo, Caetano Veloso, Gilberto Gil, Milton Nascimento, cada um à sua maneira, todos lhe devem muito. Chico disse que tudo o que fez em música foi por causa dele. Edu é o mais jobiniano dos compositores dessa geração. E Caetano resumiu numa frase a influência do mestre: “A exuberância esmagadora do seu talento tem sido, para os que crescemos à sua luz, mais estimulante do que inibidora”.
A bossa nova foi duramente criticada e, de vez em quando, ainda é, por ter sofrido influência do jazz. Seus críticos, no entanto, esquecem ou não sabem que bem maior foi a influência que a bossa exerceu sobre o jazz. E, fora do jazz, sobre muita coisa que aconteceu na música popular do mundo dos anos 1960 para cá.
A bossa nova, obviamente, é uma das matrizes da new bossa e está presente também em Sting (é só ouvir Fragile, do disco Nothing Like The Sun), Paul Simon (lembram de So Long, Frank Lloyd Right?), e Eric Clapton (quem prestou atenção no número de abertura do seu MTV Unplugged?).
O astro pop George Michael gravou Desafinado num dueto com Astrud Gilberto, e o produtor dos Beatles, George Martin, confessou ser grande admirador de Jobim, com quem sem encontrou quando esteve no Rio, em 1993. Por falar em Beatles, há um toque de bossa nova na versão de I’m Looking Through You incluída no projeto Anthology.
Se pensarmos no jazz e na canção popular dos Estados Unidos, dois discos mostram como os americanos se permitiram influenciar pelo ritmo brasileiro e pela música de Tom Jobim: Francis Albert Sinatra & Antônio Carlos Jobim e Ella Abraça Jobim. Neles, suas canções foram imortalizadas pelo maior cantor popular do século XX e pela mais clássica de todas as cantoras de jazz.
Dizzy Gillespie, Sarah Vaughan, Miles Davis, Stan Getz – todos se renderam ao talento de Tom Jobim e à importância da bossa nova. Stan Getz gravou com João Gilberto – e Tom está lá, ao piano – um disco que é, a um só tempo, um clássico do jazz e da bossa: Getz/Gilberto. Das oito faixas, uma é de Ary Barroso, outra de Dorival Caymmi, seis são de Jobim. Entre elas, em versão bilíngue, Garota de Ipanema, uma das canções mais executadas de todos os tempos, em todo o mundo.
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Fonte: Jornal da Paraíba