Claro que é importante ganhar o Oscar. É importante para filmes, diretores, atores, atrizes, roteiristas, compositores, técnicos. O Oscar é o maior prêmio do cinema.
O Oscar é o reconhecimento da indústria, mas também dos méritos artísticos de um filme. Os grandes festivais de cinema da Europa – Cannes, Berlim, Veneza – têm mais a ver com os méritos artísticos e ser premiado neles dá muito prestígio.
Ainda Estou Aqui saiu de Veneza com o prêmio de Melhor Roteiro. Quem levou o prêmio máximo – o Leão de Ouro – foi O Quarto ao Lado, de Pedro Almodóvar.
Ainda Estou Aqui é um ótimo filme. E é importantíssimo para nós, brasileiros. Mas não custa reconhecer que O Quarto ao Lado é mais cinema.
Agora, Ainda Estou Aqui está na luta para ser indicado ao Oscar. Walter Salles, seu realizador, já passou por isso em 1999 com Central do Brasil.
Por seu desempenho em Central do Brasil, Fernanda Montenegro disputou o Oscar de Melhor atriz. Sua atuação encantou Gregory Peck, que era uma lenda do cinema. Mas quem levou a estatueta foi Gwyneth Paltrow, por Shakespeare Apaixonado.
Brasileiro gosta de ser torcedor e sofre com essas coisas. Como tem sofrido a cada quatro anos com as derrotas da Seleção Brasileira na Copa do Mundo.
Oscar não é Copa do Mundo, mas, nas redes sociais, tem gente que se comporta como se fosse. Não aprendemos nunca. Ou não desistimos nunca.
Ainda Estou Aqui pretende ser um dos indicados. No mundo digital, é como se já tivesse sido. E em várias categorias. Mas a lista da Academia só sai em janeiro.
Fernanda Torres tem chance de ser indicada ao Oscar de Melhor Atriz como sua mãe foi em 1999? Sinceramente, não sabemos, por melhor que seja sua atuação.
Ainda Estou Aqui enfrenta a barreira da língua. O filme de Pedro Almodóvar é falado em inglês, o que o credencia mais às indicações da Academia.
Ainda Estou Aqui é um filme brasileiro sobre uma história profundamente brasileira. Em que medida a ditadura militar do Brasil interessa ao mundo?
O êxito de Ainda Estou Aqui no mercado brasileiro de exibição não tem qualquer relação com o potencial do filme para a disputa do Oscar em 2025.
Se o filme de Walter Salles, que lota as salas brasileiras e já foi visto por quase dois milhões de espectadores, chegar lá, ótimo. Se vencer, ótimo. Mas não torçamos tanto para não sofrermos tanto, se tudo acabar dando errado.
O mais importante é o diálogo que está sendo construído entre Ainda Estou Aqui e o público brasileiro. O bom é ver que, a despeito do boicote sugerido pela extrema-direita, um filme sobre a violência da ditadura está levando multidões aos cinemas.
Que me perdoem os que torcem pelo Oscar como quem torce pela Seleção Brasileira, mas Ainda Estou Aqui não precisa das estatuetas da Academia de Hollywood. Melhor do que tudo é o aplauso espontâneo do público ao término de cada sessão.
Clique aqui para ler a notícia em seu site original
Fonte: Jornal da Paraíba