Depois de circular por várias capitais brasileiras, passar por Nova Iorque e Londres, a mostra “A onda queer de Filmes super-8 paraibanos” será exibida em Lisboa com duas sessões (nos dias 18 e 25 deste mês, na sala de exibição da Casa do Comum, na Rua da Rosa, 285, no Bairro Alto, com coordenação local de Laura Batotitucci do projeto Cinelimite. Essa mostra reúne curtas-metragens realizados no início dos anos 80 pelos diretores Bertrand Lira, Henrique Magalhães, Lauro Nascimento, Pedro Nunes e o coletivo Nós Também.
Siga o canal do WSCOM no Whatsapp.
O contexto dessa produção se deu na distensão “lenta e gradual” da famigerada Ditadura Militar que torturou, fez desaparecer e assassinou seus opositores, quando um grupo de cineastas gays e lésbicas deu início ao que provavelmente é o único movimento cinematográfico queer (LGBTQIAPN+) do século XX no Brasil. Dois desses cineastas, Henrique Magalhães e Bertrand Lira, foram formados nos cursos de Cinema Direto (o outrora Cinéma Vérité francês) no NUDOC (Núcleo de Documentação Cinematográfica da UFPB), durante os ateliers Varan de cinema documentário idealizado pelo cineasta francês Jean Rouch em diversos países. Foi a UFPB quem abrigou essa formação em Cinema Direto no NUDOC, sob a batuta do músico e cineasta Pedro Santos, que se tornou um dos mais profícuos ateliers Varan no mundo.
Esses artistas e amigos formaram um grupo ativista pela causa guei e começaram a realizar filmes Super-8 que usavam técnicas do documentário na estética do direto para abordar em suas narrativas a questão queer no estado da Paraíba. Esse importante programa da Cinelimite, da Associação Brasileira de Preservação Audiovisual (ABPA) e do NUDOC (que abriga quase todo esse acervo), apresenta cinco desses trabalhos fascinantes e há muito não vistos até a sua descoberta pelo Cinelimite, através de ABPA. Todos os filmes da sessão foram digitalizados pela @idefb_cinelimite no projeto Digitalização Viajante, com o apoio do @nudoc.ufpb e da @abpreservacaoau
A parceria entre a @casadocomum em Lisboa e a @cinelimite trará duas sessões super especiais este mês com a presença dos realizadores. No dia 18/10, sexta, às 19h, serão exibidos Closes (Pedro Nunes, 1982, 30min) e Perequeté (Bertrand Lira, 1981, 21min) seguida de um debate com Bertrand Lira. No dia 25/10, sexta, também às 19h, exibiremos Era Vermelho Seu Batom (Henrique Magalhães, 1983, 12min), Miserere Nobis (Lauro Nascimento, 1983, 21min) e Baltazar da Lomba (Coletivo Nós Também, 1982, 20min) com a presença de Henrique Magalhães. A entrada é franca.
O crítico estadunidense Brittany Dennison escreveu, na ocasião da mostra em Nova York este ano, “é um milagre que um movimento cinematográfico queer brilhante e audacioso não apenas tenha surgido, mas florescido sob a sombria ditadura militar que governou o Brasil ao longo da década de 1980. Na Paraíba, um grupo de jovens cineastas destemidos pegou lições e câmeras do programa Cinema Direto – uma oficina de documentários criada pelo cineasta francês e pai do Cinéma Vérité Jean Rouch – e as usou para seus próprios fins urgentes, distorcendo a forma documental em uma arte semi-narrativa que deu a língua contra a censura da época.”
Clique aqui para ler a notícia em seu site original
Fonte: WSCOM