É possível invocar Euclides da Cunha, parafrasear a sua frase mais famosa, e dizer que o torcedor é, antes de tudo, um forte.
É possível, igualmente, citar Eduardo Galeano, o escritor uruguaio que costumava se autodenominar de “mendigo do bom futebol”, a perambular pelos campos do mundo ansiando por “uma linda jogada, por favor”.
É também possível, para buscar um escritor mais recente, ainda vivo, citar Sérgio Rodrigues, que em seu magnífico O Drible pondera que “há desses momentos em que tudo parece acontecer ao mesmo tempo”.
Provavelmente, confesso aqui, estou usando todas essas frases em contextos levemente distorcidos, dando novos sentidos, diferentes daqueles que os respectivos autores se propuseram originalmente.
Ainda assim, para mim, é inevitável pensar em tudo isso ao rememorar o jogo dessa quarta-feira (3) entre Botafogo-PB e Aparecidense.
Sete gols, um 4 a 3 para o Belo que se mostrou confuso e importante, nervoso e animado, preocupante e empolgante, temeroso e apaixonante.
Teve de tudo.
Golaço, festa, baile, prenúncio de goleada no primeiro tempo.
Intervalo, reviravolta.
Tensão, susto, medo, prenúncio de empate no segundo tempo.
E se a goleada não passou de um sonho que não se concretizou, ao menos o empate não passou de um pesadelo que não virou realidade.
É uma vitória simbólica, além de tudo.
São 24 pontos conquistados pelo Belo em 30 possíveis. Sete vitórias e três empates, nenhuma derrota. Liderança isolada com um jogo a menos em comparação a grande maioria dos rivais.
Menos de três meses atrás, após a derrota do clube de João Pessoa na final do Campeonato Paraibano, essa era a exata mesma marca que os mais pessimistas apontavam para se livrar de um eventual rebaixamento.
Pois ela foi alcançada com nove partidas de antecedência e primeiro do que todos os demais. Sem nenhuma perspectiva de que vá parar por aqui.
Ainda assim, nada nunca parece ser tão fácil.
E se isso pode ser preocupante ou deixar o torcedor em alerta com o que vem pela frente na competição, analisando mais friamente as possibilidades de um provável quadrangular do acesso – mais um! -, traz ao mesmo tempo uma certa magia, uma óbvia poesia, uma beleza que dialoga mais com o simbólico, o imagético, o sensorial, o intangível.
Escancara, além do mais, uma óbvia incapacidade torcedora de entender, controlar, dominar aquilo o que, afinal, está no domínio do imponderável.
Por fim, tudo o que eu posso dizer, e sentir após uma partida dessas, é que a poesia do futebol está no que é infinitesimal, no microcosmo do jogo e da vida. Naquilo o que é totalmente imperceptível, mas que de repente tem a capacidade, ou ao menos a possibilidade atrevida, de mudar os nossos destinos para sempre.
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Fonte: Jornal da Paraíba