Fundado há 35 anos e idealizado por um grupo de artistas, o Bloco Cafuçu até hoje contribui para manter viva essa classe que respira cultura. Segundo o ator e produtor cultural Buda Lira, que é um dos fundadores do bloco, o Cafuçu surgiu em 1989, quando um grupo de artistas de cinema e de teatro resolveu criar o seu próprio bloco. O nome foi inspirado em uma expressão muito usada por uma de suas fundadoras.
O termo “cafuçu” é utilizado para definir pessoas que se vestem de forma extravagante. Anualmente, os foliões do bloco aproveitam para se destacar pelas ruas e se vestir da forma mais espalhafatosa possível, sem medo de aparecer, embalados pelo ritmo do brega. Assim surgiu o Cafuçu, com uma proposta diferente dos demais blocos carnavalescos da cidade, propondo aos seus foliões um estilo “brega e chique”, arrastando multidões.
O diretor do Cafuçu, Buda Lira, aposta na criatividade dos foliões e na alegria da festa, que todos os anos é marcada pela extravagância das produções dos participantes. “O bloco Cafuçu é alegria para a família inteira. Um espaço para brincadeira que provoca a criatividade. E, este ano, mais uma vez, ele vem com esse espírito de alegria, que cria, inspira temas de Carnaval e quem faz a festa é o folião”, comentou.
Buda Lira lembra que, 35 anos atrás, quando o bloco Cafuçu foi fundado, apenas 12 pessoas participavam da brincadeira de se vestir descombinando as roupas e os acessórios, num estilo muito conhecido e querido classificado como brega.
“A primeira vez que saímos foi no bloco das Muriçocas. Era uma turma de 12 pessoas formada por artistas, funcionários da universidade. No ano seguinte fixamos a saída na sexta-feira, já com um público de cerca de 200 pessoas, utilizando fita cassete, porque não tinha nem orquestra”, contou.
O Bloco Cafuçu sai às ruas de João Pessoa na sexta-feira que antecede o carnaval, e traz para seus foliões muita música brega e irreverência. Através dessa configuração, o Cafuçu por onde passa leva a diversão e alegria com estilo brega, além de ser acessível para grupos de foliões de diferentes idades.
No decorrer dos anos, outros eventos relacionados ao bloco foram surgindo, como o Baile do Cafuçu (1993) e Forró do Cafuçu (1996). Houve ainda a produção do CD “As Dez Mais do Cafuçu” (2007) e a criação da Difusora Cafuçu no Baile do Cafuçu em 1998, inspirada nas difusoras dos parques de diversão.
Atualmente, o bloco possui um projeto social de formação artística e técnica para estudantes da rede pública de ensino. Entre as suas etapas, as ações compreendem os cursos de artes visuais, marcenaria, eletricidade básica, corte e costura e cenografia, sendo concluída com a decoração das três praças de concentração do bloco Cafuçu. O projeto é realizado em parceria com a Casa Pequeno Davi.
Em entrevista exclusiva ao WSCOM, o ator e produtor cultural Buda Lira falou sobre a trajetória do bloco, o projeto social, e também sobre a arte nas ruas, celebrada no carnaval. Ele destacou que ela está diretamente ligada àquela que se vê nas telonas ou nos palcos. Segundo o artista, a diferença é o caminho direto que ele encontra para acertar o coração do povo.
Confira abaixo a íntegra da entrevista com Buda Lira, diretor do Bloco Cafuçu:
WSCOM – Como vocês enxergam a forma que arte do carnaval toca o povo?
Eu penso que é um sentido de desejo de mudança, de transformar o cotidiano, e aproveitar aquele momento para extravasar, para se expressar de uma outra forma que o dia a dia não tem espaço. Lembrar que o carnaval guarda semelhanças com a celebração, uma espécie de agradecimento pelos deuses e deusas da fertilidade, várias civilizações trazem isso, que acabou se transformando no teatro, naqueles cortejos, aquelas fantasias. E tudo isso era uma forma de as pessoas expressarem esse plano das divindades, então eu vejo dessa maneira. É quando o povo de fato se expressa, tenta alcançar um outro patamar que o cotidiano não oferece.
WSCOM – Em que momento vocês viram que o movimento artístico de vocês tinha a necessidade de sair das avenidas e encontrar as pessoas de forma ainda mais direta, com o projeto social?
O que acontece é que nós, do bloco, estamos buscando alternativas de estar presentes o ano todo, buscando soluções para sustentação de um evento que começou como uma brincadeira, e continua sendo uma brincadeira, mas que cresceu de modo tal que gera muitas responsabilidades para a gestão do bloco, e enxergamos que essa ação social, ela tem muito a ver, ela é um caminho que coloca o Bloco numa ação permanente, claro que com repercussão específica numa tarefa. Vamos dizer, numa área do Carnaval, que é a decoração, que é a ambientação dos espaços, das praças, das ruas, que é a decoração, que é o trabalho visual. Então, inspirado em projetos que aconteceram em Olinda, se você reparar direito, tem algumas. As escolas de samba fazem isso, fazem um trabalho de formação de técnicos, de artistas, para gerar suas alegorias, suas fantasias e por aí vai. Então, em 2023, nós trabalhamos o ano todo, conseguimos, felizmente, viabilizar o projeto chamado Fábrica de Cenografia e Adereços. E vai ter repercussão tanto na formação, tem tido repercussão tanto na formação dos jovens, uma formação profissional, esse é o caminho que a gente quer percorrer. Uma formação como cidadão, como ser humano, isso que está dentro do nosso projeto e essa nossa missão com esse projeto.
WSCOM – São 35 anos de história, qual é o momento mais importante, para vocês, dessa caminhada?
Essa pergunta me remete a um filme de curta-metragem que passa rapidamente aqui na minha cabeça. Nós tivemos momentos muito importantes, tanto de dificuldades, quando a gente, por exemplo, não conseguia acertar direito a questão da sonorização, questão de estrutura, e superamos essas dificuldades. Eu marcaria três momentos que foram fundamentais para o bloco. A troca dos trios elétricos, a gente saía com trios elétricos, poucas pessoas no entorno do trio elétrico, então não havia necessidade de trios elétricos, e a gente fez a mudança para orquestra no chão. A segunda mudança foi à ida para o Centro Histórico. Acho que depois de três, quatro anos nós resolvemos ir ao Centro Histórico da cidade, fazer o desfile no Centro Histórico da cidade. Isso, na sexta-feira que antecede ao chamado sábado gordo de carnaval, quando as pessoas já iam ou para as praias próximas, ou iam para o interior, ou iam para a Olinda, Recife, Salvador, quem podia, Rio de Janeiro. Então, a ida para o Centro Histórico foi uma decisão fundamental, está aí o resultado. E o terceiro, eu acho que foi a inclusão da Difusora Cafuçu. A gente descobriu essa brincadeira quando fizemos um baile do Cafuçu na Praça Antenor Navarro, quando existia o Paraíba Café. E numa dessas brincadeiras nós colocamos a Difusora, que é uma experiência nossa de quem viveu no interior da cidade, no interior do estado, vendo parques de diversões, com recadinhos. E aí veio a difusora, junto veio a música chamada música romântica, que as pessoas intitulam música brega, que é música que eu particularmente adoro e o público adora também.
WSCOM – Existe alguma meta que o Cafuçu ainda deseja alcançar?
A principal meta do bloco é a autossustentação. Ele já é um grande atrativo porque tem um público, um bloco que tem uma simpatia muito grande da cidade, tem uma empatia muito grande com a cidade, a cidade adora o bloco, muita gente na rua, a gente tem buscado trabalhar o ano todo, enfim, a gente tá no caminho de conquistar essa sustentabilidade, de estabelecer parcerias comerciais que acreditam nesse retorno que o bloco tem a oferecer. Eu acho que tá faltando muito pouco, mas a gente tem isso como uma meta principal, gerar condições próprias do bloco, para que ele saia cada vez melhor, com mais qualidade, com identidade com a cidade. O fato de a gente, por exemplo, ter ido para o Centro Histórico há mais de 20 anos, esse é um dado importante, é um sinal, é um indicativo de que a gente está no caminho certo, no sentido de ter esse apreço da cidade, observar a cidade e ocupar espaços que geram identidade do Bloco.
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Fonte: WSCOM