Inflação fica abaixo das projeções, mas alimentos sobem

A inflação oficial do Brasil, medida pelo IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo), registrou leve desaceleração a 0,24% em outubro, informou nesta sexta-feira (10) o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). O resultado veio após avanço de 0,26% em setembro.

O novo dado (0,24%) é o menor para meses de outubro desde 2019 (0,10%) e ficou abaixo da mediana das previsões do mercado financeiro. Analistas consultados pela agência Bloomberg projetavam variação de 0,29% para o mês passado.

Segundo o IBGE, o IPCA foi pressionado principalmente pela carestia das passagens aéreas, e os alimentos voltaram a subir de preço após quatro meses de redução. A gasolina, por outro lado, caiu e ajudou a frear a inflação.

Com o resultado de outubro, o IPCA ficou abaixo de 5% no acumulado de 12 meses. A alta desacelerou a 4,82%, após variação de 5,19% até setembro. Assim, o acumulado se aproximou do teto da meta de inflação em 2023, que é de 4,75% até dezembro.

ALTA NOS ALIMENTOS
Conforme o IBGE, os preços de 8 dos 9 grupos de produtos e serviços pesquisados no IPCA tiveram avanço em outubro. Transportes (0,35%) e alimentação e bebidas (0,31%) contribuíram com 0,07 ponto percentual cada para o índice geral. Comunicação (-0,19% e -0,01 ponto percentual) foi o único segmento em queda.

Dentro de alimentação e bebidas, a alimentação no domicílio subiu 0,27% em outubro, após quatro meses de quedas consecutivas. Os preços da comida vinham em baixa devido a fatores como a ampliação da oferta de produtos no mercado.

Em outubro, porém, esse cenário apresentou diferenças. André Almeida, gerente da pesquisa do IPCA, disse que o volume de chuva afetou regiões produtoras, contribuindo para a carestia de alimentos como a batata-inglesa (11,23%) e a cebola (8,46%).

O IBGE também destacou o avanço dos preços das frutas (3,06%), do arroz (2,99%) e das carnes (0,53%). “No caso do arroz, a gente tem menor oferta com maior demanda para exportações e consumo interno se mantendo estável”, afirmou Almeida.

Foto: Freepik

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Do lado dos alimentos em baixa, o IBGE citou o leite longa vida (-5,48%) e o ovo de galinha (-2,85%). Apesar da alta em outubro, a alimentação no domicílio acumula deflação (queda) de -1,30% em 12 meses. Nesse recorte, a redução estava em -0,78% até setembro.

Ainda em alimentação e bebidas, o subgrupo alimentação fora do domicílio acelerou o ritmo de avanço em outubro (0,42%) frente ao mês anterior (0,12%). As altas da refeição (0,48%) e do lanche (0,19%) foram mais intensas do que em setembro (0,13% e 0,09%, respectivamente).

SUBIDA NA PASSAGEM AÉREA E QUEDA NA GASOLINA
No grupo dos transportes, o avanço de 0,35% foi puxado pela disparada de 23,70% dos preços das passagens aéreas. Os bilhetes exerceram a maior pressão individual para a alta do IPCA como um todo em outubro (0,14 ponto percentual).

“É o segundo mês seguido de alta das passagens aéreas. Essa alta pode estar relacionada a alguns fatores como o aumento no preço de querosene de aviação e a proximidade das férias de fim de ano”, apontou Almeida.

No caso dos combustíveis (-1,39%), que também integram o grupo dos transportes, somente o óleo diesel (0,33%) apresentou aumento. A gasolina (-1,53%), o gás veicular (-1,23%) e o etanol (-0,96%) caíram de preço.

A gasolina é o subitem com o maior peso entre os 377 da cesta do IPCA. Em outubro, o combustível teve uma contribuição de -0,08 ponto percentual no índice geral, a principal entre os produtos e serviços em baixa.

No dia 21 de outubro, a Petrobras reduziu o preço da gasolina e aumentou o do diesel em suas refinarias. Analistas veem reflexos da medida nos resultados captados pelo IBGE.

AVALIAÇÃO É POSITIVA, DIZEM ANALISTAS
O recorte do IPCA que mede a variação dos preços dos serviços, por sua vez, acelerou a alta para 0,59% no mês passado, após marcar 0,50% em setembro. Conforme o IBGE, o resultado foi puxado pela carestia das passagens aéreas.

Em 12 meses, a inflação acumulada por serviços atingiu 5,45% até outubro. A variação era maior, de 5,54%, até setembro. A inflação de serviços é um dos componentes observados pelo BC (Banco Central) para a condução da política monetária.

Na semana passada, o Copom (Comitê de Política Monetária do BC) seguiu a estratégia de reduzir a taxa básica de juros (Selic) em 0,5 ponto percentual, de 12,75% para 12,25% ao ano. O colegiado também sinalizou novos cortes da mesma intensidade nas próximas reuniões.

Para analistas, a leitura do IPCA de outubro é positiva. O comportamento do índice, dizem, deve ajudar o BC no processo de corte dos juros.

“A composição de maneira geral do IPCA foi muito positiva”, disse Laiz Carvalho, economista para o Brasil do banco BNP Paribas. “Por outro lado, a gente ainda tem alguns riscos, o cenário global, a questão fiscal local”, ponderou.

O IPCA serve como referência para o regime de metas de inflação do BC. Em 2023, o centro da medida perseguida pela autoridade monetária é de 3,25% para o acumulado em 12 meses até dezembro.

A tolerância é de 1,5 ponto percentual para mais (4,75%) ou para menos (1,75%). Ou seja, a meta será cumprida se o IPCA ficar dentro desse intervalo até o final do ano.

Analistas do mercado financeiro projetam inflação de 4,63% no acumulado até dezembro de 2023, conforme a mediana da edição mais recente do boletim Focus, divulgada pelo BC na segunda-feira (6). Isso significa que a estimativa está abaixo do teto da meta (4,75%).

“A leitura do IPCA de outubro trouxe surpresa baixista espalhada e mostrou abertura qualitativa boa nos núcleos e nas principais medidas de serviços”, afirmou Andréa Angelo, estrategista de inflação da Warren Investimentos.

A instituição projeta IPCA de 4,5% neste ano, mas há chance de número menor em razão de um possível reajuste para baixo na gasolina, disse Angelo.

O C6 Bank revisou sua previsão para o índice de 2023 de 5,2% para 4,8%. Claudia Moreno, economista do banco, destacou que o IPCA de outubro veio abaixo do esperado, mas ela ainda vê alta “resiliente” dos serviços.

“A inflação de serviços continua se mostrando resiliente, acumulando uma alta de 5,5% em 12 meses. Não acreditamos que os preços desse grupo caiam significativamente por conta do mercado de trabalho aquecido”, afirmou Moreno.

Rafaela Vitória, economista-chefe do banco Inter, avaliou que o ritmo atual do corte de juros no Brasil é “até moderado” diante do cenário de inflação. A cautela, segundo ela, está associada ao risco externo maior, com juros elevados nos Estados Unidos e incerteza fora do país.

* LEONARDO VIECELI (RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS)


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Fonte: Paraíba Online

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