Desculpe-me a aparente arrogância, hoje eu não quero falar de futebol.
Está ficando cansativo falar sempre das mesmas questões.
Vitória, proximidade da classificação, risco de acesso, tradição de marcar gols enloquecedores e emocionantes nos acréscimos do segundo tempo.
Quer dizer, quero sim falar de futebol.
Mas de um outro futebol. Ou, melhor dizendo, do futebol visto por outra perspectiva.
O futebol que não está no gramado, mas nas arquibancadas. Não é dos jogadores, mas do povo. De um jogo cadenciado e ritmado cuja rima não está no toque de bola, mas na sonoridade ensandecida que parece brotar do concreto do Almeidão.
Quero falar de música, dos cânticos das torcidas, de bateria e charanga, de pulos que ecoam no cimento e reverberam na alma. Da emoção sonora que ganha a pele em forma de arrepio.
Não são poucas as pesquisas que comprovam o poder aglutinador da música. Sujeitos que se transformam em coletividades e se reconhecem como companheiros de bancada justamente no som, na subversão da batida, no aceleramento paulatino do ritmo até a desforra definitiva.
Vozes. Múltiplas vozes. Que se tornam una. Apenas momentaneamente una, é bem verdade, mas que permanecerá una enquanto perdurar o arrebatamento.
Não foi a primeira vez, claro, não será a última.
Mas o que se viu nesse domingo (30) no Estádio Almeidão, durante e após a vitória por 2 a 0 do Botafogo-PB contra o Manaus, na Série C do Brasileirão, foi uma bonita e impactante demonstração de mediação em favor da festa.
Múltiplas identidades, com seus conflitos e rivalidades, negociando diferenças para cantar ao Belo, à vitória, ao futebol, à paixão, à felicidade extrema.
Foi arrepiante testemunhar tudo aquilo.
Do Sol à Sombra, no melhor estilo Eduardo Galeano, a reverência ao jogo, ao drible, ao gol, aos três pontos, à escalada na tabela, à desforra coletiva que faz a vida valer a pena.
Em mais um domingo, o dia sagrado do futebol, os botafoguenses foram felizes dentro de sua própria casa.
E esse é o cenário perfeito para descrever o significado de encantamento.
É isso.
A revolução, tal como o acesso, podem ser conquistados através da música.
Cantemos, pois!
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Fonte: Jornal da Paraíba