A comissária de voo Natália Turri Facella, 37, é apaixonada pela Barbie desde que se conhece por gente, o que a fez criar e manter uma coleção com cerca de 50 bonecas.
Facella já comprou os ingressos para o filme sobre a estrela da Mattel que estreou nesta quinta-feira (20) nos cinemas brasileiros.
Ela está ansiosa pelo longa. Diz, porém, que o padrão Barbie nem sempre foi positivo para ela.
Morena de olhos e cabelos castanhos, não se identificava com a boneca. A irmã, por outro lado, loira de olhos verdes, era chamada de Barbie na infância. Facella, por tabela, ficou conhecida como “a irmã da Barbie”.
“Depois, mais velha, identifiquei isso na terapia, que buscava ser algo que não era meu”, conta.
Adultos e crianças, sejam homens ou mulheres, foram influenciados pela forma física da boneca. Tanto a Barbie, como seu parceiro Ken, são criticados pelo corpo magro e musculoso, que por anos promoveu padrão inatingível para muitos.
Para o novo filme, que visa celebrar a complexidade e diversidade da boneca, especialistas recomendam cuidado, uma vez que ainda há protagonismo de Margot Robbie, que corresponde aos ideais de beleza perpetrados pelo brinquedo.
No caso do cabeleireiro e tiktoker Marcelo Lima, 37, conhecido nas redes como Marcello Bergmann, o boneco parceiro da Barbie foi sempre uma referência. Batizado de “Ken Humano”, ele usou o brinquedo como inspiração em procedimentos estéticos.
Antes de sua transformação, não se considerava uma pessoa bonita. Passou por bichectomia, rinomodelação e alectomia para afinar o nariz. O clareamento da pele também é nítido.
“Desde criança eu gostava do boneco e dos modelos de capa de revista. E muita coisa me incomoda ainda, mas parei de fazer [procedimentos] porque a grana está curta agora”, diz.
A popularização do feminismo e a luta pela diversidade racial e sexual lançou um desafio para o mundo dos brinquedos.
A boneca branca, de cabelos dourados e olhos claros, além de magra, marcou gerações.
Mesmo a origem erótica do brinquedo, vendido para homens adultos, não impediu a ascensão do produto no meio infantil.
A nova Barbie retratada no filme é a projeção da mulher que pode ter qualquer profissão, não apenas a de mãe. Os biotipos explorados são 12, embora a protagonista ainda celebre a imagem loira e esguia.
Os debates sobre os novos estereótipos da Barbie, porém, não começaram em decorrência da produção americana. Em 2020, a docente e pesquisadora Sheila dos Santos, da UFG (Universidade Federal de Goiás), atuante na área de psicologia da educação, já discutia em artigo “As Ciladas do Novo Estilo Barbie.”
No texto, Santos afirma que a nova imagem da boneca trazida pelas redes sociais da marca ainda “preconiza determinados padrões de beleza, posturas conformistas e sexistas.”
O médico Fábio Salzano, vice-coordenador do Programa de Transtornos Alimentares do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da USP (Universidade de São Paulo), indica que estudos associam a exposição à boneca na infância e adolescência com impacto negativo na autoimagem corporal.
“As medidas de bonecas, se transpostas para seres humanos, trazem medidas irreais quanto a altura, peso e medidas de cintura e pescoço, trazendo desconforto a essa exposição de ideais irrealistas”, afirma o médico.
A busca por tal padrão de beleza pode levar à distorção de imagem, questão que incentiva o emagrecimento exagerado.
“A autoimagem negativa também se associa a sintomas ansiosos e depressivos. A supervisão e cuidados dos pais quanto as orientações de ideais de peso e imagem corporal também é fundamental para prevenção da insatisfação corporal”, diz Salzano.
Wendell Uguetto, cirurgião plástico da SBCP (Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica) e do Hospital Albert Einstein, concorda que o problema de tentar se parecer com um brinquedo é que o produto não traz proporções humanas.
“O paciente querer se tornar algo perto da Margot Robbie não é tão ruim quanto querer se tornar a Barbie. Quando o paciente quer ser a boneca, ele tem que causar alterações e disfunções no corpo, são cirurgias muitas vezes que causam sequelas. O próprio nariz da Barbie, se ela fosse uma pessoa, seria um nariz que funcionalmente respira mal”, afirma.
O procedimento a ser seguido por médicos nesse caso, segundo Uguetto, é orientar sobre a impossibilidade da intervenção, o que resulta na recusa em fazer a cirurgia.
Dependendo da situação, é indicado encaminhar o paciente ao acompanhamento psicológico para lidar primeiro com as questões que o levaram até ali.
(DANIELLE CASTRO – FOLHAPRESS)
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Fonte: Paraíba Online