Qual é o maior clássico da Paraíba? Descubra

Qual é o maior clássico da Paraíba? Mais do que isso, como se responde a uma pergunta tão complexa? Que atalhos, que caminhos podem ajudar nessa missão?

Uma das possibilidades para se iniciar o debate está no antropólogo Arlei Damo, que é autor do conceito de “clubismo”, amplamente difundido nos debates sobre futebol e que dialoga diretamente com a ideia de paixão futebolística, de amor que é produzido coletivamente por um clube de futebol. 

O clubismo, na visão do professor, não está vinculado a um torcedor qualquer, distanciado ou de ocasião, mas a um torcedor “emocionalmente engajado”. Ele não apenas torce, ele pertence ao clube do coração.

Damo vai além em suas reflexões e destaca que o clubismo não existe em si. Toda a sua potência, na verdade, estaria centrada numa outra face desse sentimento, que ganha forma justo no conflito, na jocosidade, no antagonismo contra um rival. Ainda de acordo com o autor, “através do clubismo vive-se a alteridade”.

É através das alteridades, portanto, que o futebol se transforma num potencializador de rivalidades. E de clássicos. São os torcedores, afinal, mais do que os clubes, que constroem os clássicos, que os transformam em momentos especiais.

Dito isso, volta-se ao debate sobre qual é o maior clássico da Paraíba. Porque é a partir dessa ideia de clubismo e de protagonismo dos torcedores nesse processo que o Jornal da Paraíba embarca na tentativa de responder a questão.

Qual é o maior clássico da Paraíba?

Que critérios, afinal, definem qual é o maior clássico da Paraíba? Pois, inspirado nos argumentos apresentados, um clássico precisa ter história, precisa mobilizar duas torcidas antagônicas, preferencialmente que isso aconteça de uma forma que o jogo vire um evento, uma centralidade, capaz de virar o assunto na cidade em que ele acontece.

Além disso, conforme uma série de estudiosos demonstram, a rivalidade é mais fortemente vivida a partir do localismo. Então o clássico é comumente mais forte em clubes de uma mesma cidade, ou de cidades que são bem próximas e cujas rivalidades não raro suplantam o futebol.

É importante ter em mente também que um clássico não é algo dado e imutável. Um clássico é um organismo vivo, que precisa ser vivido e revivido para continuar tendo relevância. Por maior que tenha sido, pode morrer, perder importância, tornar-se frio.

Então, para seguir sendo grande, para ser o maior, deve ser uma rivalidade que ainda provoca sensações antagônicas nas diferentes torcidas. E, diante de todos esses aspectos, nenhum clássico da Paraíba é maior do que o Clássico dos Maiores, que envolve Treze e Campinense, os dois principais times de Campina Grande.

Conheça o Clássico dos Maiorais

Ilustrando o clássico dos maiorais: Um jogador do Campinense prestes a dominar a bola no peito ou de cabeça, enquanto dois jogadores do Treze vem chegando para a disputa de bola com ele.
Foto: Daniel Lins/Campinense

O Clássico dos Maiorais é o único de uma mesma cidade da Paraíba que mantém relevância até os dias atuais e mobiliza a população de Campina Grande a cada duelo entre Treze e Campinense. Veja algumas curiosidades sobre o clássico, como números do confronto direto, origem, melhores jogos, artilheiros e título de Galo e Raposa.

Quem é o maior vencedor do Clássico dos Maiorais?

Os números do Clássico dos Maiorais foram levantados pelo professor, historiador e pesquisador Mário Vinícius Carneiro, autor do livro “Treze Futebol Clube”. A propósito, a grandeza do clássico é comprovada no detalhe de que, num livro sobre o Galo, uma parte é destinada ao clássico e ao grande rival. 

Segundo o pesquisador, são 418 jogos já realizados entre as duas equipes. São 141 vitórias do Treze e 112 vitórias do Campinense, com mais 165 empates. O Galo já anotou 501 gols e a Raposa anotou 453. Um dado curioso é que o ano de 1969 foi aquele em que as duas equipes mais jogaram entre si:16 vezes.

Quando o Clássico dos Maiorais se iniciou?

Curiosamente, o Clássico dos Maiorais não é nem de perto o mais antigo do futebol paraibano. Esse título é do Botauto, o clássico pessoense entre Botafogo-PB e Auto Esporte. Só na década de 1950 uma partida entre Treze e Campinense foi finalmente realizada. 

Isso se dá porque, embora o Campinense (fundado em 1915) seja o clube mais antigo da Paraíba ainda em atividade, o departamento de futebol da Raposa foi desativado no início da década de 1920 e só retomado em 1954. Portanto, quando o Treze foi fundado em 1925 e durante os quase 30 anos iniciais de história do Galo, o seu principal rival estava longe do futebol.

Assim, o primeiro Clássico dos Maiorais da história, ainda de acordo com Mário Vinícius Carneiro, aconteceu em 27 de novembro daquele ano, no Estádio Plínio Lemos, de Campina Grande, com o Galo saindo vencedor por 3 a 0. Os gols foram de Mário, Josias e René.

Quais foram os melhores jogos?

Num contexto em que se discute qual é o maior clássico da Paraíba, é difícil apontar os melhores jogos dessa disputa. Principalmente porque existem critérios absolutamente pessoais, individuais e intransferíveis para definir um jogo inesquecível.

A importância do duelo, onde cada torcedor estava, o que sentiu, o que foi que testemunhou no momento definitivo da partida em questão.

Ainda assim, pode-se destacar as 12 vezes em que o Campeonato Paraibano foi definido com o clássico sendo disputado na final (sem contar aqui as vezes que as duas equipes decidiram o título em confronto direto na última rodada, mas sem ser em final). Nessas oportunidades, oito vezes terminou com título do Campinense e em quatro o título ficou com o Treze. Nas últimas duas vezes, contudo, em 2011 e em 2020, o título foi trezeano. A última vez que a Raposa foi campeã numa final contra o arquirrival foi em 2008.

E apenas para reforçar a importância dessas finais para a história do clássico, o Jornal da Paraíba questionou a um torcedor do Treze e a um do Campinense qual o clássico de suas vidas. E ambos escolheram finais de estaduais.

O advogado e poeta Gustavo Guimarães, fanático torcedor da Raposa, relembra de forma emocionada a final de 2004, quando o Campinense foi campeão em cima do Treze depois de vencer a primeira partida por 2 a 1 e depois de empatar a segunda por 2 a 2. Era o fim de 11 anos de jejum e o congraçamento do elenco montado pelo técnico Maurício Simões, que à época ainda era desconhecido na Paraíba. 

“Aquela segunda partida até hoje me causa muita emoção. Ao relembrar dela, eu consigo sentir a mesma emoção que senti no dia em que estava no Amigão. O estádio estava totalmente tomado, era época de São João, o clima era de bastante acirramento entre os dois clubes, e o Treze começou ganhando”, explica, tendo a capacidade de relembrar em detalhes alguns lances do jogo.

Aliás, o cineasta Marcus Vilar, esse trezeano fanático, também elege um empate como o seu clássico inesquecível. Ele se refere à final do Paraibano de 2011, quando o Galo se sagrou campeão estadual após dois empates seguidos em 1 a 1 (como tinha melhor campanha ao longo da competição, o Treze ficou com o título).

Vilar, no entanto, diz que a segunda partida ficou para a posteridade. “Eu desde pequenininho assisto ao clássico. Minha avó tinha um bar no campo do Treze e eu vivia lá dentro. Então eu assisti a muitos jogos. Mas o de 2011 foi emocionante para mim”, pontua.

E quando Marcus diz que o clássico daquele ano ficou na posteridade, ele fala literalmente. Naquele dia, ele gravou o documentário “Jogo de Olhar”, que falava justamente sobre o Clássico dos Maiorais. “Na minha ética, o placar que saísse eu ia colocar. Mas para minha sorte foi empate e o Treze foi campeão”, relembra aos risos.

Qual o maior artilheiro do Clássico dos Maiorais?

O maior artilheiro do clássico é Valnir, um raposeiro que marcou 17 gols pelo Campinense em cima do Treze, entre os anos 1968 e 1974. A disputa à época era contra Adelino, o Leão do Galo, que marcou 16 gols pelo Treze em cima do Campinense. Também com 16 gols está Pedrinho Cangula. A diferença é que ele marcou 15 vezes jogando pelo Campinense e uma vez jogando pelo Treze. As informações são do pesquisador Beto Soledade.

Qual time tem mais títulos? Campinense ou Treze FC?

Simbolizando o time com mais títulos da Paraíba: Troféu de metal de bola de futebol sendo erguido ao ar livre, o céu está azul, claro e com nuvens.

Treze e Campinense são os dois últimos campeões paraibanos. O Galo venceu em 2023, a Raposa em 2022. Ao todo, a vantagem é raposeira. O Campinense soma um total de 22 títulos estaduais, sendo campeão pela primeira vez em 1960. Já o Treze tem 17 títulos paraibanos, sendo campeão pela primeira vez em 1940. Na disputa entre ambos, o Campinense ainda tem a seu favor o título da Copa do Nordeste 2013. O Treze até pleiteia o título da Série B do Brasileirão 1986 (ao lado de Central, Criciúma e Inter de Limeira), mas aquele campeonato não foi finalizado e a CBF não reconhece um campeão para aquele ano.

Quem é o maior campeão da Paraíba?

O maior campeão paraibano é o Botafogo-PB, que já levantou a taça em 30 oportunidades. O primeiro título do Belo foi em 1936 e o clube ainda tem a seu favor a Série D do Campeonato Brasileiro 2013, sendo o único do estado a ser campeão nacional. Depois disso, Treze (em 2018) e Campinense (em 2021) já chegaram à final da Série D, mas ambos ficaram com o vice-campeonato.

Quais os outros clássicos da Paraíba?

Dois jogadores rivais, frente a frente no meio de campo. Um com uniforme vermelho, o outro com uniforme azul. A bola está parada no centro do meio campi, simbolizando clássicos de futebol a Paraíba

Além do Clássico dos Maiorais, há outros clássicos regionais importantes na Paraíba, cada um com suas particularidades e rivalidades locais.

Botauto

O Botauto, que é a partida entre o Botafogo-PB e o Auto Esporte, é o clássico mais antigo do futebol paraibano se considerar apenas times da Paraíba ainda em atividade. Foi disputado pela primeira vez em 3 de abril de 1938 e o jogo inicial terminou em 1 a 1. Durante muitas décadas, foi a resposta para o debate sobre qual é o maior clássico da Paraíba. 

Depois de ser ultrapassado pelo Clássico dos Maiorais, seguiu sendo o maior de João Pessoa, mas foi perdendo força desde 1992, com o enfraquecimento do Auto Esporte no cenário estadual. Em 1987, o Auto venceu o Belo na final do Paraibano. Foi a última vez que os dois clubes decidiram um Campeonato Paraibano.

Clássico Emoção

O clássico entre Campinense e Botafogo-PB tem importância no contexto do futebol paraibano, não restam dúvidas, mas perde força por causa de alguns critérios. Primeiro que o Belo atualmente tem uma rivalidade maior com o Treze do que com o Campinense e depois porque ele não é dos mais antigos. Ainda assim, foi potencializado nos últimos anos, quando os dois clubes praticamente polarizaram a disputa estadual. Entre 2012 e 2022, foram cinco títulos para cada lado. Em três títulos do Belo e em dois da Raposa nesse período, o título saiu de um Clássico Emoção.

Clássico do Sertão

Não é um clássico grande para além de seus limites e, ao bem da verdade, só tem pouco mais de 30 anos. Mas é talvez um dos mais charmosos, um dos que mais ampliam a rivalidade para fora do futebol. Isso porque Sousa e Cajazeiras são dois municípios sertanejos distantes apenas 44km um do outro e as duas populações já nutriam relações de rivalidades e de antagonismos bem antes do clássico existir. A potência do jogo, ademais, é que ambas as cidades possuem apenas um clube competitivo e Sousa e Atlético de Cajazeiras acabam tendo o poder de aglutinar em torno de si as respectivas populações. É a rivalidade entre cidades sendo emulada no futebol.

Clássico Tradição

Atualmente, é o principal clássico para o torcedor do Botafogo-PB, mas a partida perde um pouco em importância porque não é o principal clássico para o torcedor do Treze. Fato é que o Clássico Tradição é o segundo mais antigo a ser realizado entre clubes paraibanos ainda em atividade, visto que é disputado desde 1939, e é cercado por momentos de rivalidade. São inúmeras as vezes que os dois clubes decidiram o título. A última vez que o Belo venceu o Paraibano em cima do Galo foi em 2017, a última vez que o Galo venceu em cima do Belo foi em 2010.

Para mais notícias do futebol paraibano, acompanhe o Jornal da Paraíba.

Resumo

O Jornal da Paraíba tentou responder, a partir do conceito de clubismo, de alteridade e de rivalidade, qual é o maior clássico da Paraíba. E dentre tantos jogos importantes que definem o futebol paraibano, o Clássico dos Maiorais é considerado o maior e mais importante da Paraíba.

Por exemplo, é o único de uma mesma cidade que mantém relevância até os dias atuais e que mobiliza a população de uma cidade como Campina Grande. E a partir dessa resposta, a reportagem apresentou algumas curiosidades sobre o jogo, como números do confronto direto, origem, melhores jogos, artilheiros, título.

Por fim, falou-se ainda sobre alguns dos outros clássicos existentes no futebol paraibano, destacando o apogeu e a decadência do Botauto, as partidas entre o Belo e os clubes de Campina Grande e o simpático e aguerrido clássico entre cidades do Sertão.

Quer saber mais sobre qual é o maior clássico da Paraíba e sobre a história e a rivalidade do Clássico dos Maiorais? Acompanhe a editoria Esportes do Jornal da Paraíba para ficar por dentro de todas as notícias, análises e curiosidades do futebol paraibano. 

Clique aqui para ler a notícia em seu site original
Fonte: Jornal da Paraíba

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